quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Um outro dia


E o pierrôt saiu pelas ruas de pedra perguntando às suas lágrimas por que o tempo havia sempre de passar tão rápido... Por que dói tanto perder a graça? Sem a maquiagem o pierrot não tinha beleza. Num gole gelado ele finalizou a garrafa de vinho tinto, tanto que sua pança ja havia estrapolado. Assobiou uma canção francesa da época de sua tatararavó, que implantava em sua alma um fogo branco, queimando tudo o que conhecera até ali.

Dói te esqueçer, pensou ele. Ainda podia sentir o perfume do corpo de sua colombina inocente. Porque será que te quero a cada palavra que digo? Ele pensou que soubesse, mas não, não sabia. Dói, de repente, não mais que de repente, viver. Ele sentou num banco de uma praça. Sono, saudade. Sou tão pouco que me perco de mim...

O palhaço quis deitar-se no banco, com o rosto pregado no assento de pano. Só queria poder chorar em paz. Folhas de oliveira se derramaram com o vento. Ele podia ver no céu um cometa partindo, mais uma vez, e rumo ao vazio, ao além.

Nem o vinho, nem as estrelas, nada podia consolar o meigo rapaz borrado no rosto. Olhos nos olhos. A madeira do tronco da oliveira era sua coluna despedaçada, e fazia muito frio. O choro de seu filho, lembrou-se em silêncio, será que nunca mais poderei ouvi-lo? Ele sentiu um medo que apagou as listras de sua camisa suja de terra e secou o creme de seus cabelos. Perto das flores daquele canteiro que ele retirou as luvas.

Foi-se embora a alegria, novamente, ele afundou o rosto nas mãos aquecidas. Na frente do espelho ele havia se pintado com a tristeza. Mas logo uma brisa leve tocou sua face trágica e sutilmente engraçada. Ele não resistiu e dormiu como um feto que ainda não se desligara, esperando o nascer do dia, um outro dia somente.

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