quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Frente ao Espelho

Numa madrugada meu corpo atua como se quisesse te falar tantas coisas. Na frente do espelho, eu descubro uma vastidão de possibilidades de te comunicar o que penso sobre tua eterna fuga. Se eu pudesse, mostraria que as coisas não necessariamente devam ser tão ruins, ou tentaria alcançar alguma espécie de solução para o misterioso medo que nós, pensadores que sofremos, devemos conviver. Estou certo que para uma boa atuação é preciso adornar o corpo com símbolos místicos pessoais, qualquer espécie de fantasia ou talismã, e é muito interessante quando o maior adorno é o nosso próprio corpo nu.

Fiquei rindo na frente do espelho de coisas tão absolutamente naturais em mim. Minha vergonha, vaidade, estupidez... pudor, tudo foi posto frente à frente e dialogado. Depois de rir tanto de meus pêlos, meus ossos, meu sexo, descubro que nada realmente é engraçado, a não ser a imensa estupidez para com o modo que a humanidade vem se relacionando com o próprio corpo.

Balanço meu sexo de um lado para o outro e ele gira como um catavento. Aquilo me provoca uma sensação de rídiculo que eu resolvo sentir pra valer. Então percebo que não há nada para rir. É apenas eu e você. Deveríamos rir das roupas, isso sim. Panos tingidos com formas abstratas apenas para esconder aquilo que temos de mais precioso e frágil que é nosso corpo, macacos nus.

De certa forma, meu desejo imenso é ver-te nua. Quero suspirar perto de sua pele para tentar entender o mecanismo do tesão. A nossa percepção corporal ardendo de um para o outro. Ao mesmo tempo, sentir o aroma de cada canto do teu corpo representa uma verdadeira aventura num vasto horizonte de sensações inegáveis e tão presentes, que é impossível não se entregar. Não me importa, portanto, se não quiseres abrir teu coração. Deixo-te remoendo tua tristeza sozinha, pois para mim o melhor a se fazer é não fugir mais. És uma cientista maluca da mente, assim como eu!

Se a filosofia de um psicológo trabalha sob um prévio condicionamento da consciência sob os efeitos do conflito saúde-mente, no que se transforma o pensamento sob a pressão de uma doença? É essa a questão que realmente interessa ao psicologo, justamente porque é possível o conhecimento na prática, o experimento. A fuga do corpo é a filosofia do medo. Funciona durante o tempo que nos é dado para sofrer, isolados num laboratório particular chamado nós mesmos. O melhor a se fazer é atuar frente ao espelho.

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