segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Rosa


De você, eu leio palavras que são minhas todos os dias desde o dia que encontrei esta rosa negra e murcha, moribunda na calçada, no entanto, mais perfumada do que nunca.

Acontece que nunca antes tive tanta vontade de gritar: "PERDÃO". Uma palavra encantadora. Sólida. Palavra que me torna maior, um merecedor. Será que vale a pena derramar lágrimas sobre a terra ao tentar replantar a rosa?

Rosa. Faça-me digno de todo o seu perfume negro e tristonho. Faça-me um canto inaudível e nunca sonhado por duas flores como nós. Rosa. Deite-se no meu peito e espere, apenas espere o amanhecer. Venha, minha casa tem espaço para nós dois, como um oceano azul. Ouça aqui dentro do meu peito este coração que não é mais meu. Ouça como ele clama, rasga-se por dentro, detona-se como uma bomba letal neste corpinho tão frágil e sensitivo que possuo, às vezes contra minha vontade. Tudo por causa da sua vida, Rosa.

Chame meu nome de Antônio, Pedro, Porta, Palco, tanto faz... apenas converse comigo sobre o enorme céu que sonhei na noite anterior. Ainda posso farejar as estrelas que eu vi, acordado e completamente só.

O que temos de ter, além de espinhos? Assim como todas as noites, antes de nos encontrarmos nesta terra de ninguém, posso ouvir os lamentos do meu limoeiro, tão solitário quanto o teu quarto num domingo repleto de saudades.

Vem mais perto, vou pedir perdão às raízes de teu ouvido. Vou te declamar o poema do corpo e da alma para que você possa reconhecer minha simplicidade, quero ser merecedor, Rosa.

Perdão, mas não quero que eu seja o único. Não, não deves cegar teu pranto, nem teu contentamento por apenas um rosto feio, desconhecido e triste como o meu. Mas se por um instante, ah, se por apenas um instante, decidir que sou mais do que posso ser, renascerei negro como tuas pétalas rachadas, ensangüentadas.

Nascendo uma outra vez como flor, juro, ao teu lado quero ser plantado. Quero me alimentar do teu alimento. Terra úmida e nutritiva não há melhor como a tua. E então giraremos em torno da luz do sol, sempre que o sol sair. E a noite, vá embora encontrar tua vida.

Serás tão livre que nem notará se um dia eu morrer pisoteado por alguma criança ou transeunte atormentado de paixão. Rosa. Deixe-me brotar aqui, perto de ti, só mais uma vez. O que mais eu poderia desejar?

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