segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Após o Concerto de Violoncelos

Desta vez, após sair de um concerto de violoncelos na casa do amigo Modigliani, o pierrôt sentiu que seria válido atravessar o largo, em direção à bodega mais próxima, para tomar mais alguns tragos de rum. Pouco antes, enquanto os quatro amigos Modi, Utrillo, Rivera e Picasso executavam Vivaldi, ele interrompeu a música com um grito agudo, dançando embriagado sobre uma das bancadas de madeira onde Modigliani depositava tintas. Por estar com o coração leve e musical - ele considerava um privilégio presenciar aquele momento entre amigos - numa atmosfera mística e carregada de emoção, o pierrôt começou a cantarolar uma canção vinda de outras beiradas do mundo, lá das terras do Brasil, e todos silenciaram:

“Sei que é doloroso um palhaço
Se afastar do palco por alguém...
Volta, a platéia te reclama!
Sei que choras, palhaço,
por alguém que não te ama...

Enxugas as lágrimas
e me dê um abraço
e não te esqueças
que és um palhaço!
Faça a platéia gargalhar...
um palhaço não deve chorar...”


Todos aplaudiram! Que momento de alegria! O palhaço sentiu que nada mais devia ser feito senão buscar uma nova garrafa de rum para celebrar, e todos se regozijaram! Ele saiu para a rua ébrio como nunca estivera na vida. Porém, dessa vez, havia um cheiro acre de lama e pedra molhada que transformou sua alegria em melancolia, uma melancolia intensa e impenetrável, como já era de se esperar. A perambular pelos becos vazios de uma cidade adormecida, ele pôs-se a pensar na sua colombina mais bela de todas. De certa forma, ele estava satisfeito. Na noite anterior, havia deixado em mãos alguns versos apaixonados, os quais ela retribuiu com um sorriso tímido, mas que o deixou suavemente encantado pelo mistério daquela figura aromática e linda.

Embriagado de amor, passando pela mesma ponte onde deram-se as mãos pela primeira vez, o palhaço subiu no fino parapeito e caminhou equilibrando-se com os braços. Embaixo, um rio escorria suas águas negras como a noite e desconhecidamente profundas. Na completa euforia, ele não se importava tanto com o risco. Por isso, ele escorregou.

Já a uns 3 metros de profundidade, ele sentiu no silencio das águas a mesma melodia executada por seus amigos, num frágil timbre de violoncelo. Ele abriu os olhos, mas nada podia ser visto naquela escuridão. Tornou-se fácil não respirar, o pulmão ainda possuía um pouco de ar. Ele começou a sentir o êxtase. Era uma sensação curiosa para ele, que gostava de colecionar sensações variadas e extraordinárias para apenas um corpo humano. Sentia ao mesmo tempo uma espécie de paz, sono, calor. Toda a embriaguez se fora. O oxigênio em seus pulmões já havia sido totalmente absorvido. O gás carbônico começou a ser expelido, formando borbulhas surdas no fundo do rio.

Afinal, aqui não está tão ruim assim, o palhaço pensou. Seu corpo já havia atingido os 7 metros de profundidade. Que emoção! Com certeza, este foi o melhor dia de sua vida. Obtivera o sorriso da colombina mais bela e distante de todas. Bebera o absinto sagrado juntos aos maiores pintores e músicos que já tivera a honra de conhecer. Cantara para eles sua canção e depois dançara sobre o próprio reflexo nas águas negras do rio, mergulhando assim para a morte como quem se deixa afundar num poço de paixão. A maquiagem já havia desbotado quando os olhos do pierrôt fecharam-se ao som das cordas. Felizmente, ele não pode ver seu rosto limpo.

domingo, 29 de novembro de 2009

Após meu encontro com o Almirante, foi traçado na empunhadura de meu sabre sonoro, algumas palavras a plenos pulmões: “I’m alive, vivo, muito vivo, vivo, vivo, sinta o som do cinema elétrico batendo em minha pança, pança, pança”. Poderei eu alcançar the age of (g)old? "EU SEI QUE UM DIA EU DEVO MORRER. EU ESTOU VIVO. SIM. EU SEI QUE UM DIA EU DEVO MORRER! EU ESTOU VIVO!" E a pele de todas as mães, TODAS AS MÃES DO MUNDO, inclusive a elefanta, a forminha Rainha, a LUA, a minha, todas me fazem chorar. Desse filme eu conheço todas as estrelas: Nove de dez, para ser preciso. Todas as tolices sentimentais que comentem os cantores chorões à meia-noite, num bar embriagado, embriagado, tentando ser algo menor. Vamos à luta, pois que tenho medo, mas às vezes não o tenho tanto assim.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Traga de volta, vento,
Traga de volta a vida.
Deixa o sangue ser vermelho,
E olhos voltarem para os meus.
Vem voando, mas venha rápido.
Eu não sei das coisas, não sei!
Apenas sei de nada,
Porque nada é tudo que sou.
Então porque esperar?
Traz de volta nosso umbigo
Que é para eu nunca mais chorar.
Vamos fazer um cinema,
Vamo construir um teatro da vida e morte,
Pois é o único lugar onde eu quero estar.

Flor de Maracujá

... E então, de repente, alegremente, o sol sai. Seca a chuva. As cores se anunciam. Nuances vivas se projetam em todos os objetos. O calor começa a mudar algo. Ouço o barulho das folhas de árvore se debatendo. Aquilo que desatina e dói no corpo, surpreendentemente se abranda, relaxa. Apesar de qualquer tristeza compreendida pela poesia, me tranquiliza, de certa forma imediata, saber que o pior ainda está por vir...

Pela rua...

De que me importa se a vida siga toda manhã...? De manhã é que choro minhas lágrimas a todas as pessoas que andam sem rosto, pois é a hora que ninguém me vê... É que esse mundo tem uma dor... Que não sei explicar, mas existe. Em algum beco ou passarela dentro deste meu corpo de Baco. É o espinho. A ferida. Algo inacabado, incompleto. Um susto que se leva por ter se esquecido do peito.

Espero que ainda exista gente, cá na terra, que não tenha esquecido de seu próprio peito, como eu frequentemente tento não fazer, mas faço. Tempo. Tento lutar contra ele. Amargo tempo. O que seria do precioso "eu" sem ele? Este ego, eu nego.

Então é comum, quando chove, as orelhas se arrebentarem. Os dentes se triturarem numa agonia eterna. D-O-R. Deveria ter feito isto. Deveria ter causado espanto no tempo! "Ei, Cacique, veja só como eu ainda estou aqui"! Mas é nada, quase água.

Explosão no céu, é uma estrela sacrificada mais cedo, talvez. Eu nada posso fazer. Que adiantaria um duelo? O gigante contra o anão. Um sol contra um verme. Às vezes, tenho vontade de não ser qualquer coisa além de pura terra. Pura estrela. Sem tempo, nem sangue.

O tempo me fere como uma lança em brasa. Os minutos e segundos onde só há o desamor, são o tempo. Então... traz de volta, vida, a vida dos olhos que não são meus. Volta nesse tempo emendado com todo o vento do mundo. Tráz de volta, tempo, o tempo que se perdeu, passou, pois assim eu não passarei mais. Sem fugir, apenas deixarei de existir e estarei amando tudo demais para sequer lembrar desse tempo que me judia.

Estarei amando à mando de algo a mais. Bom dia, sexta-feira cinza e fria. As ruas estão vazias. Eu nesta repartição imagino você confortávelmente adormecida. Pela janela vejo a rua. É verdade... Estão tristes e vazias.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Há o amor vital, a força energética, mística, contemplativa e universal. Díficil de ser tratado cientificamente. Trata-se do amor altruísta, o qual não pede nada para si. É o amor de buda.

Há o amor por coisas, o amor por pessoas e o amor por entidades. Trata-se do amor egocêntrico, onde 2 egos tornam-se 1, assim como 1 torna-se 2. É o amor de bunda.

Ambos são parte de uma coisa só, assim como tudo é que pensado. Como uma forma de organização, caminho. Nunca tomados por verdades, mas a necessidade de quebrar preconceitos e desprender-se da idealização. Ao contrário da paixão, que é ingênua, mas completamente necessária para manter o balanço, como um mergulho que simplesmente decidimos mergulhar e ponto final.

Há de ter equilíbrio. Nesse todo, todas as formas de amor podem ser vitalizantes, mas também podem buscar a desvitalização, utilizando-se de formas externas, buscando atingir o interno. É o principio dos opostos, o amor e a morte. Nem um, nem outro: equilíbrio.


E a depressão, enfim? É o próprio amor... quando bate em retirada...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Frente ao Espelho

Numa madrugada meu corpo atua como se quisesse te falar tantas coisas. Na frente do espelho, eu descubro uma vastidão de possibilidades de te comunicar o que penso sobre tua eterna fuga. Se eu pudesse, mostraria que as coisas não necessariamente devam ser tão ruins, ou tentaria alcançar alguma espécie de solução para o misterioso medo que nós, pensadores que sofremos, devemos conviver. Estou certo que para uma boa atuação é preciso adornar o corpo com símbolos místicos pessoais, qualquer espécie de fantasia ou talismã, e é muito interessante quando o maior adorno é o nosso próprio corpo nu.

Fiquei rindo na frente do espelho de coisas tão absolutamente naturais em mim. Minha vergonha, vaidade, estupidez... pudor, tudo foi posto frente à frente e dialogado. Depois de rir tanto de meus pêlos, meus ossos, meu sexo, descubro que nada realmente é engraçado, a não ser a imensa estupidez para com o modo que a humanidade vem se relacionando com o próprio corpo.

Balanço meu sexo de um lado para o outro e ele gira como um catavento. Aquilo me provoca uma sensação de rídiculo que eu resolvo sentir pra valer. Então percebo que não há nada para rir. É apenas eu e você. Deveríamos rir das roupas, isso sim. Panos tingidos com formas abstratas apenas para esconder aquilo que temos de mais precioso e frágil que é nosso corpo, macacos nus.

De certa forma, meu desejo imenso é ver-te nua. Quero suspirar perto de sua pele para tentar entender o mecanismo do tesão. A nossa percepção corporal ardendo de um para o outro. Ao mesmo tempo, sentir o aroma de cada canto do teu corpo representa uma verdadeira aventura num vasto horizonte de sensações inegáveis e tão presentes, que é impossível não se entregar. Não me importa, portanto, se não quiseres abrir teu coração. Deixo-te remoendo tua tristeza sozinha, pois para mim o melhor a se fazer é não fugir mais. És uma cientista maluca da mente, assim como eu!

Se a filosofia de um psicológo trabalha sob um prévio condicionamento da consciência sob os efeitos do conflito saúde-mente, no que se transforma o pensamento sob a pressão de uma doença? É essa a questão que realmente interessa ao psicologo, justamente porque é possível o conhecimento na prática, o experimento. A fuga do corpo é a filosofia do medo. Funciona durante o tempo que nos é dado para sofrer, isolados num laboratório particular chamado nós mesmos. O melhor a se fazer é atuar frente ao espelho.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O Vento de Villa


Não importa. A cada manhã que desperto meus sentidos devem estar sempre prontos para mais um dia de exposição e renovação. Foi-se a época em que eu deixava de viver por medo de morrer. Você já sentiu isso? Quantas noites revirando a cabeça no travesseiro, apertando os olhos contra o seu próprio interior, sentindo o grande medo, o supremo medo. Afinal, o que é não existir? Como saberei! E se não der tempo? Desespero.

Então eu me levanto, cansado de estremecer, cansado de procurar respostas, cansado do medo da incompreensão das coisas. Até perceber que tudo é uma grande e plácida incompreensão. Bem, não podemos ficar sofrendo na cama sozinhos a noite inteira. A gente se cansa uma hora. O que eu faço? Levanto-me e coloco no meu velho som aquela fita velha de Villa-Lobos.

Você conhece Villa-Lobos? Dizem que seu amor pela vida era tão enorme que ele sabia conduzir os rumos dos ventos num campo aberto, onde as árvores permaneciam estáticas. Pinheiros, eucaliptos, araucárias, imóveis. Villa-Lobos então dizia às crianças: “Observem como o vento gosta de ser chamado”. Então ele, não mais de repente, começava a assobiar. Aquele assobio fazia um efeito no mundo onde todas as coisas começavam a mover-se! Instantaneamente, como vindo de um profundo sentimento de avesso causado por seu próprio medo, ventos! Uma ventania sem precedentes se apossava dos ramos das árvores, e elas começavam a dançar e balançar de um lado para o outro!

As crianças arregalavam os olhos e gritavam de contentamento! Finalmente poderiam empinar suas pipas! Todas elas saiam correndo como animais satisfeitos após uma refeição, enquanto Villa apenas observava todo aquele mundo, como era lindo, como a vida era linda, com um discreto sorriso no rosto, sombreado por seu tradicional chapéu panamá.

Nas noites de confusão e medo da morte, ouvir sua música era a grande saída para o meu pavor total. Acendia em mim a esperança que, talvez, viver não seja tão ruim assim. Ao meu lado eu via dois homens cumprimentando-se e, no mesmo instante, chamas alaranjadas emergiam possuindo seus corpos. Então, no auge da passagem mais bela dos violinos, onde as tropas e os fagotes escorriam o mel de uma melodia tão carregada de tristeza e doçura, eu via, ao longe eu via, aquele rostinho lindo, olhando para mim de baixo. Eu podia, enfim, ver suas mãozinhas frágeis segurando a barra de minha calça. Era o rostinho de meu filho, que eu ainda nem conhecia.

Logo eu percebia que nada adiantava ficar me debatendo às 4 horas da madrugada em minha cama, com medo da morte por não saber viver, não! Daquele momento em diante eu deveria aprender a viver. E para viver, e também para o meu filho viver, eu sabia que deveria procurar a vida.

Eu soube qual seria então a minha busca, a única busca que é válida nesse mundo. A eterna busca da beleza das coisas, de Deus, do amor enfim. Nestas noites completamente solitárias, enclausuradas no meu eterno pavor de sobreviver sem ter amado verdadeiramente, eu descansava meus músculos num sadio relaxamento interior.

Paciência. Este amor há de existir. Paciência. Seu filho reside nas páginas velhas de um livro de poesia, ou nas mãos cuidadosas que um dia hão de afagar minha nuca que transpira meu mais puro desejo.

A minha melancolia era tão sóbria que eu fui até a janela, onde residem do lado de fora os postes de luz incandescentes, o meu limoeiro tão cheiroso pelas manhãs, e as flores da roseira, todos estáticos, e no mais complexo e infinito silêncio da madrugada eu assobiava uma linha melódica semelhante ao de Villa, porém minha, minha melodia saída de dentro de mim.

Ele estava certo. O vento veio e estremeceu aquele mundo adormecido e escuro, onde só eu permanecia acordado. A vida poderia mesmo, daquela forma solitária e vasta, ser bela.

O Sonho de Marie

(Ilustração por João Miguel)

Sete horas da manhã. Marie levantou-se da cama, despiu sua pele de seda, amassada com a noite anterior, inquieta e opaca. Fez sua crônica matinal ainda nua. Sentia-se embriagada, entorpecida, junto a uma sensação de ter dormido não mais que alguns minutos. Foi quando começaram os delírios.

Caminhou até a porta do quarto. Sentiu o odor acre do suor seco impregnado em sua pele. Uma última espiada no quarto e reparou no homem que ainda dormia em sua cama. Adentrou na sala, receosa e tépida, como uma aventureira que entra numa caverna escura e virgem. De repente, uma escada prateada conduz Marie ao andar seguinte, onde há uma porta entreaberta. Nua, ela desliza seus passos sobre os degraus. Hesita em escancarar a porta, então somente bisbilhota pela fresta iluminada o que se encontrava do outro lado.

Viu um homem e uma mulher trocando intensas carícias. O homem está arranhando a pele jovem e rosada, como quem celebra sua presa, seu prêmio, e certifica-se que ninguém mais a possuirá senão ele. A mulher, mesmo que submetida a dolorosas gasturas e arrepios, corre com a ponta dos dedos os ombros e costas, acariciando-o terna e amavelmente. Marie ao ver aquela cena sentiu vibrar seu ventre. Algo borbulhava no interior de sua barriga. Foi quando teve a certeza de que estava grávida.

Então todo o sólido chão desfez-se. Sentiu uma levitação que a empurrou contra a porta, caindo num precipício impalpável que se aprofundava num chão de luz clara e ofuscante. Só quando o brilho prateado diminuiu ela pôde ver a cena mais estrondosa de sua vida: duas pessoas em volta de uma cama antiga, contemplando uma mulher dando a luz a uma criatura que, mesmo sem nunca tê-la visto, Marie sabia ser seu filho. Estranhamente essas duas pessoas apenas olhavam e não ofereciam nenhuma ajuda, enquanto a mulher, berrando de agonia, paria seu fruto já maduro. Marie começou a chorar, a rezar e chorar mais, desejando que todo aquele parto se abreviasse para que ela pudesse protejer seu filho, mas sua cabeça e membros pesavam uma tonelada e ela não conseguia se mover.

Foi quando a mulher soltou seu último suspiro e forçou a criança para fora de seu corpo, expelindo-a numa bacia posta entre suas pernas. Nesse momento um dos dois que estavam observando adianta-se e com uma faca, de aspecto bruto e enferrujado, corta o cordão umbilical em dois pontos distintos, um perto do umbigo da criança e outro já na saída do corpo da mulher. O outro expectador, antes imóvel, também se adianta e toma o recém-nascido em seus braços. Embrulha-o num lenço negro de seda, enquanto o outro estende o fragmento de cordão umbilical e entrega-o a mãe, que o recebe apavorada. Os dois viram as costas e desaparecem na escuridão.

A mulher na cama permaneceu congelada em sua expressão de horror. Marie gritou. Gritou desesperadamente. Gritou com o cerne da intenção desesperada e entristecida. Sangue jorrou em suas pernas. O mundo começou a silenciar. Marie agora gritava em silêncio, alguém excluiu o som de sua voz do mundo. Piscou os olhos para derramar as lágrimas acumuladas e baque! Estava deitada em sua cama novamente! O relógio de cabeceira marcava exatamente seis horas e cinqüenta e nove minutos. Ela retomou a consciência. Deu um gemido baixo a fim de atestar se sua voz ainda existia. Ao seu lado ainda dormia o mesmo homem que enxergava em seu sonho, por entre a fresta da porta entreaberta. Apaziguou-se. Mais um olhar ao homem e sorriu discretamente. Sentiu o ventre vibrar.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Noite de Chuva

Meu corpo arde. É noite de chuva. Ele arde. Há pássaros pousados nos fios de alta tensão. Dentro de mim, todos os romances já escritos. Onde estará o meu romance?
Devo-te amor, não nego.
Quero-te, amor. Não nego.
Não toque assim este coração tão frágil.
Não seja o aço da torre fria.
Prefiro a dor do que ter espaços.
Neste vazio não posso mais existir.
Eu vi a mosca voar vã e solta
E tudo me diz que devo ir junto.
Estou sofrendo, meu amor.
Sofro porque envelheço a cada dia,
E a cada dia renasço em ti.
Tanta dor por apenas um beijo?
Tanto frio apenas pelo infinito?
Eu não tenho infinito.
Estou chorando.
Estou apenas chorando no vazio.

João de Barro

Por quanto tempo me escondi do mundo? Envolvido num sopro de vento, por quanto tempo deixei de ser sopro para ser vento? Agora que percebi como minha constituição se assemelha a terra, ao pó, argila, não posso deixar de querer derramar água em mim para unificar-me. É o vento que seca o barro molhado. É no vento que eu voo longe, busco o pólen e o canto de outro passarinho.

Talvez assim eu possa um dia me tornar um lindo vaso chinês, ou um muro rígido como meus ossos. Há dias que minha consistência é como carne crua de peixe, sem fibras e insípida. Noutros, tudo o que sei que sou, e o que não sei também, adquire formato fino, transparente e muito atraente.

Posso mastigar meus pensamentos sem me importar com meu corpo. Não sem me perguntar: por quanto tempo me escondi do mundo, engolindo esses pensamentos como pedras improváveis de se triturar? Como pode uma mente que se liquefaz e derrama-se junto ao sangue, se expele com a urina, aparentemente estar escondida?

Neste ponto, as minhas janelas produziam uma penumbra imensa dentro de mim. Sobre as minhas duas esferas negras, e muito eficientes ao enxergar o mundo, as cortinas do pensamento permaneciam intactas e frias. O sol, enfim, não podia alcançar a lã do tapete, tampouco meus dedos que descansavam sobre uma cama vazia. Vinte dedos, sozinhos.

Então, subitamente, algo acontece que me torna menos eu, menos indivíduo. Torno-me amplo como o céu da Turquia! Branco como o gelo da Antártida! Isso só me remete a uma explicação: meu ser, mais do que nunca, necessita construir a sua própria casa, não mais basta ser único porém tão dividido. Quer amor.

Ao pensar, como o vento, meu ser torna-se um grão de terra seco. Ao sentir, como a água que é minha amada, torna-se barro.
Problemas! Ó, mundo! Como tu tens problemas! Se falha a luz, tudo dá errado. A hidrelétrica de Itaipu fica inativa por algumas horas, e metade do país sem energia elétrica. Bendita eletricidade, esse é o caos que todos merecem. As crianças recém nascidas morrem, os sorvetes derretem...

Rosa


De você, eu leio palavras que são minhas todos os dias desde o dia que encontrei esta rosa negra e murcha, moribunda na calçada, no entanto, mais perfumada do que nunca.

Acontece que nunca antes tive tanta vontade de gritar: "PERDÃO". Uma palavra encantadora. Sólida. Palavra que me torna maior, um merecedor. Será que vale a pena derramar lágrimas sobre a terra ao tentar replantar a rosa?

Rosa. Faça-me digno de todo o seu perfume negro e tristonho. Faça-me um canto inaudível e nunca sonhado por duas flores como nós. Rosa. Deite-se no meu peito e espere, apenas espere o amanhecer. Venha, minha casa tem espaço para nós dois, como um oceano azul. Ouça aqui dentro do meu peito este coração que não é mais meu. Ouça como ele clama, rasga-se por dentro, detona-se como uma bomba letal neste corpinho tão frágil e sensitivo que possuo, às vezes contra minha vontade. Tudo por causa da sua vida, Rosa.

Chame meu nome de Antônio, Pedro, Porta, Palco, tanto faz... apenas converse comigo sobre o enorme céu que sonhei na noite anterior. Ainda posso farejar as estrelas que eu vi, acordado e completamente só.

O que temos de ter, além de espinhos? Assim como todas as noites, antes de nos encontrarmos nesta terra de ninguém, posso ouvir os lamentos do meu limoeiro, tão solitário quanto o teu quarto num domingo repleto de saudades.

Vem mais perto, vou pedir perdão às raízes de teu ouvido. Vou te declamar o poema do corpo e da alma para que você possa reconhecer minha simplicidade, quero ser merecedor, Rosa.

Perdão, mas não quero que eu seja o único. Não, não deves cegar teu pranto, nem teu contentamento por apenas um rosto feio, desconhecido e triste como o meu. Mas se por um instante, ah, se por apenas um instante, decidir que sou mais do que posso ser, renascerei negro como tuas pétalas rachadas, ensangüentadas.

Nascendo uma outra vez como flor, juro, ao teu lado quero ser plantado. Quero me alimentar do teu alimento. Terra úmida e nutritiva não há melhor como a tua. E então giraremos em torno da luz do sol, sempre que o sol sair. E a noite, vá embora encontrar tua vida.

Serás tão livre que nem notará se um dia eu morrer pisoteado por alguma criança ou transeunte atormentado de paixão. Rosa. Deixe-me brotar aqui, perto de ti, só mais uma vez. O que mais eu poderia desejar?

domingo, 22 de novembro de 2009

Cordas e Sopro



minha música é uma gaveta funda
guarda o mundo todo num acorde.
minha música é simples e surda
causa-me espanto, derrama-se muda.
minha música é uma dialogo eterno
entre minha carne e a tua carne.
minha música sossega meus olhos
entrega-se à vida como uma grávida.
minha música um dia há de silenciar
queria toca-la todos os dias para você.
minha música é o que sobrou de ti
e nunca há de ser nada além de ti.
minha música é pouco mais que um choro
e sempre há de ser mais que uma lágrima.
minha música existe e nada mais importa.
minha música diz a mim "você está vivo".
é pouca, é quase nada, dela não espere nada,
espere tudo, espero sempre. Estou partindo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

paz e amor. boa noite, mundo.

Um outro dia


E o pierrôt saiu pelas ruas de pedra perguntando às suas lágrimas por que o tempo havia sempre de passar tão rápido... Por que dói tanto perder a graça? Sem a maquiagem o pierrot não tinha beleza. Num gole gelado ele finalizou a garrafa de vinho tinto, tanto que sua pança ja havia estrapolado. Assobiou uma canção francesa da época de sua tatararavó, que implantava em sua alma um fogo branco, queimando tudo o que conhecera até ali.

Dói te esqueçer, pensou ele. Ainda podia sentir o perfume do corpo de sua colombina inocente. Porque será que te quero a cada palavra que digo? Ele pensou que soubesse, mas não, não sabia. Dói, de repente, não mais que de repente, viver. Ele sentou num banco de uma praça. Sono, saudade. Sou tão pouco que me perco de mim...

O palhaço quis deitar-se no banco, com o rosto pregado no assento de pano. Só queria poder chorar em paz. Folhas de oliveira se derramaram com o vento. Ele podia ver no céu um cometa partindo, mais uma vez, e rumo ao vazio, ao além.

Nem o vinho, nem as estrelas, nada podia consolar o meigo rapaz borrado no rosto. Olhos nos olhos. A madeira do tronco da oliveira era sua coluna despedaçada, e fazia muito frio. O choro de seu filho, lembrou-se em silêncio, será que nunca mais poderei ouvi-lo? Ele sentiu um medo que apagou as listras de sua camisa suja de terra e secou o creme de seus cabelos. Perto das flores daquele canteiro que ele retirou as luvas.

Foi-se embora a alegria, novamente, ele afundou o rosto nas mãos aquecidas. Na frente do espelho ele havia se pintado com a tristeza. Mas logo uma brisa leve tocou sua face trágica e sutilmente engraçada. Ele não resistiu e dormiu como um feto que ainda não se desligara, esperando o nascer do dia, um outro dia somente.

O que você vê?
Sabe aqueles dias que você chega em casa após tudo e tudo que você mais deseja é que a casa esteja completamente vazia? E como é bom quando ela está...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

samba em prelúdio

"Eu sem você não tenho porque
porque sem você não sei nem chorar
Sou chama sem luz
jardim sem luar
luar sem amor
amor sem se dar
E eu sem você
sou só desamor
um barco sem mar
um campo sem flor
Tristeza que vai
tristeza que vem
Sem você meu amor eu não sou
ninguém"...

V. de Moraes

samba triste

Samba triste a gente faz assim
Eu aqui você longe de mim, de mim...
Agora eu sei que toda vez que o amor existe
Há sempre um sambe triste, meu bem...
Samba que vem de você, amor...

Palhaço

"Sei que é doloroso um palhaço
Se afastar do palco por alguém
Volta que a platéia te reclama
Sei que choras palhaço
Por alguém que não te ama.

Enxuga os olhos e me dá um abraço
Não te esqueças que és um palhaço
Faz a platéia gargalhar
Um palhaço não deve chorar".

Baden

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Eu leio teu livro, sem aviso. Eu mordo esta ameixa, sinto seu aroma, deixo o suco escorrer em minha boca. O gosto... é o mesmo do livro.
Saudades... Será que ela me conhece?
Saudades... Será que ela já me sabe?
Saudades... Será que ela me existe?

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Espanto a todos os malditos não nascidos,
Que virão depois de mim, perpetuar a maldição.
Que saibam, são eles todos merecidos
Do licor dos versos que provoca solidão.
... se não levares a sério meu sentir, nunca será minha linha, meu fio. Se não puder aceitar, não será meu pensar. Nunca serei eu, então. Mas podemos nos tornar uma planta, um só vegetal. Várias folhas, muitos frutos, apenas um caule... famintos sobre a mesma raiz, e sozinhos.
"Aonde está você...? Me telefona.
Me chama, me chama, me chama...

Nem sempre se vê lágrima no escuro...
Nem sempre se vê mágica no absurdo..."

L.
... se não me levares a sério meu sentir, nunca será minha linha, meu fio. Se não puder aceitar, não será meu pensar. Nunca serei eu, então. Mas podemos nos tornar uma planta, um só vegetal. Várias folhas, muitos frutos, apenas um caule... famintos sobre a mesma raiz, e sozinhos.

domingo, 15 de novembro de 2009

Estou completamente só.
Nunca nasci e morri tanto como agora.
Fui abortado do todo sem escolha.
Não há outro em mim,
Pois vivo demasiado entristecido por mim.
Se compartilho-me, partilho-me.
Se parto em tua direção, corres, foges...
E eu renasço, como um parto, acordo.
Não divido minha paixão com nenhuma violeta.
Todas foram pisoteadas
Por uma nave que não posso mais controlar...
Estou tão perdido que mal posso sonhar...
Tão infinito que mal posso me ver.
E você é tão veloz, tão algoz, que desaparece cedo.
Só queria o conforto de chorar por teu pranto.
Me dói na carne ser tão só... tão só...
Onde está meu reflexo, onde estão meus filhos...
Onde está a tranquilidade do caos de tua pele?
Estarei respirando quando notares que somos um?
Meu coração foi arrancado por meus dedos,
Para ser entregue a você como a prova do tempo.
Estou tão só, que nem sei mais como é estar só.
... vai meu coração, pede perdão, perdão por ter amado.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

flores mortas

Tenho flores mortas
Na janela do quarto.
Ao som de saxofone
Eu aparento morrer.
Ainda sinto o cheiro
Do perfume de cravo.
Quando durmo vasto
Teus olhos posso ver.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

hahahahahahahahahaha
Problemas! Ó, mundo! Como tu tens problemas! Se falha a luz, tudo dá errado. Itaipu fica inativa por algumas horas, e metade do país sem energia elétrica. Bendita eletricidade, esse é o caos que todos merecem. As crianças recém nascidas morrem, os sorvetes derretem...

uma respiração

Budismo: Tudo é impermanente.

Milan Kundera: A Insustentável Leveza do Ser.

M. Merleau Ponty: Eu não tem exterior, assim como o outro não tem interior.

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Amor... A confirmação da experiência interior do outro, no seu próprio interior. O coosentimento.

João: Deixa ela, que ela existe.

O amor como relação afetiva. O amor como busca espiritual.

Espiritual: A melhor forma de compartilhar o interior.

Isso varia de lugar para lugar, de tempos para tempos.

Ao nascer nos desligamos, nos tornamos indivíduo. Somos ilha.

Há a pura necessidade de ligação. Alguém que divida o interior. Isso se chama AVENTURA.

Gozar, gozar, gozar, gozar e gozar.

Amor é geral, Amor: Amar alguém, amar alguém(s).

E é tudo muito bom.

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Aquele que só tem certezas não seria o tolo? Como se furtar ao mundo? Como se furtar ao mercado de consumo? É impossível. É herrado.

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(Todo mundo se sente perdido, e precisa conversar).

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Caralho.
Às vezes este cantinho pode ser perigoso.
Entrego tudo nas mãos de quem sabe reconhecer o banal, o bananal,
De macias maçãs-do-rosto sobre o pomar da ponta de seu nariz.
She fell in love... He fell asleep...

They wait...

(Je ne savais pas. J'ai besoin de les comprendre.)
L'amour comme une fleur.
Giant est ma douleur.
Pas de sécurité.

Canto ao Medo

Me canso de ter medo,
Puro medo de ser mudo.

Eu sou pequeno.
Sou o medo do mundo.

Talvez eu não seja
Algo que você(eu) veja.

Eu quase não tenho sentidos,
Sofro, sofro, quieto, quieto.

Eu sou uma mentira.
Eu não sei o que mentir.

Sou uma decepção que devasta.
Um grande nada que se basta.

Sou o começo do fim, como as flores.
Mas eu desconheço a mim.

Eu tenho apenas essa forma
Ela é tudo que eu tenho.

Eu não me chamo mais João.
Não posso mais ser ele. Ele são.

Me proteja. Transforme minhas mãos.
Sou apenas uma mulher presa.

Minha força bruta é forte.
Lança-me no abismo. A mulher e a morte.

Eu sou medo e minha pureza me apavora
Não tenho pressa, não tenho. Perdi a hora.

Meu destino é permanecer.
Minha luz, só, esquece de ser.

Não há ninguém, ninguém que mereça
Tanta solidão. Nem uma nesga do mundo.

Sou o fraco, o que você queria?
A minha força vem por que sou calmo.

No quadro, uma tolice de apaixonado.
Um ser que ama sofrer, ser enganado.

Ao mesmo passo que se sente cansado,
Meu coração sabe que vai morrer.

E quando ele morrer, irei junto e feliz.
Diga que quase amei, foi por um triz!

Estou mais vivo do que nunca.
Disso as paredes já suspeitam.

Não leia mais sobre tudo,
Não leia tanto, meu coração se apagou.

Meu coração se apagou.
Meu coração se apagou.

Meu coração é uma vida separada.
Sem teu corpo, para sempre há de ser nada.

Esse coração é um banco de praça...
Pintado com as cores da desgraça.

Meu coração é tolo e antigo.
Para ser lido, precisa ser esquecido.

Ele sabe que há de se esquecer
Por ter sabido tanto sofrer.

Logo essas palavras nascem...
Logo essas palavras morrem...

Meu medo, meu peito, nasceram sem morrer.
Minha melhor amiga é a dor, sem saber.

Espalho por minha pele meu espírito.
Poderá sentir o aroma doce, dito?

Vou dormir. Vou dormir para sempre.
Não sei mais acordar para sempre.

Estou pronto. Tenho sono.
Estou pronto. Tenho fome.

Tenho o que tenho,
Cresço para dentro.

Não tenho caminho...
Perco-me só e com frio.

Ando descalço, bebo vinho.
Bebo seu passo, ando sozinho.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ser um corpo único.

Por que será que a ideia de sermos um corpo só nos amedronta?

Nesta linha de mistério que isola nosso corpo, e que sempre nos surpreende, encontrar na figura exterior reflexos da figura interior é existir?

Mas o corpo, o corpo, é menor que o pensamento.

Então por quê querer ter mais liberdade do que se tem?

Eu me canso pois não consigo parar de ser.

Minha condição é tão pequena, enquanto a condição sua é tão maior que a minha, por ser parte de um Universo externo, onde a condição é tão grande que nem se chama condição.

Será que é possível achar uma cura para a condição?

Ou melhor, é possível encontrar a cura para o medo da condição?

Afinal, de que vale ser assim tão sensato?

domingo, 8 de novembro de 2009

O que eu sei?

Eu continuo a te dizer sobre tudo
Dos absurdos e das coisas da vida
Já deixei cartas no seu criado mudo
E só me resta encontrar a saída

Por um breve segundo
Todo o medo do mundo
Se tornou um alegre jardim

E você me cantava assim
Assim, devagarinho um DÓ
Que me deixou melhor
Acho que foi sua mão
Que fez essa canção

Se a rua vai, voltarei
Sem você eu não partirei...
a vida inteira eu quis ser rei,
mas o que eu sei?


Com sete cores pintarei o meu muro
Um tanto certo é pensar na subida
Num passo tento te envolver nessa dança
E te dar flores, minha meiga querida.

Se o escuro do espaço
Vir aos olhos, num lapso
Estaremos num fragíl capim

Andaremos descalços, enfim.
Acho que é melhor
Não viajar tão só
Pegar estrada e não andar na contramão.

Se a rua vai, voltarei
Sem você não partirei
a vida inteira eu quis ser rei,
mas o que eu sei?

O que eu sei?

Eu continuo a te dizer sobre tudo
Dos absurdos e das coisas da vida
Já deixei cartas no seu criado mudo
E só me resta encontrar a saída

Por um breve segundo
Todo o medo do mundo
Se tornou um alegre jardim

E você me cantava assim
Assim, devagarinho um DÓ
Que me deixou melhor
Acho que foi sua mão
Que fez essa canção

Se a rua vai, voltarei
Sem você eu nunca partirei...
a vida inteira eu quis ser rei,
mas o que eu sei?


Com sete cores pintarei o meu muro
Um tanto certo é pensar na subida
Num passo tento te envolver nessa dança
E te dar flores, minha meiga querida.

Se o escuro do espaço
Vir aos olhos, num lapso
Estaremos num fragíl capim

Andaremos descalços, enfim
An han acho que é melhor
Não viajar tão só
Pegar estrada e não andar na contramao.

Se a rua vai, voltarei
Sem você nunca partirei
a vida inteira eu quis ser rei,
mas o que eu sei?








sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Simples

Tento encontrar uma página branca
Mas as lágrimas dos galhos da manhã
Borram a tinta de meu caderno
E apagam meu cigarro, lentamente.

Minha vontade é nula,
Eu apenas tenho que contemplar
As palavra indo embora
E deixando marcas de agonia
Em enormes manchas de meu corpo.

Nesta manhã, eu não sou mais palavras.
Apenas esta página branca...
Sem mais de mim,
Os versos também são brancos.

De que adianta especular
E fazer laços com pensamentos?
Neste chão de seixos em silêncio,
O que sacode o mundo
E perfura o crânio dos pássaros,
É a pura simplicidade do meu canto.

Quanto mais simples,
Maçãs simples, melhor.
Posso então sentir,
Pelo silêncio, as palavras.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Distraída

Quando a primeira gota escorreu
Ninguém dançava mais do que eu
Mas a chuva é só uma dança
Esquecida.

Do ouro, de volta, se enriqueceu,
E as folhas verdes ele percebeu
Escondendo-se da lua
Na sua vida.

Em breve a memória será Deus
E os amores que ela perdeu
Serão a chave de uma porta
Proibida.

Foi quando o mundo adormeceu
E a terra toda estremeceu
Com a mágica de Amanda,
Distraída.