domingo, 28 de dezembro de 2008

Manhã de Lua

"Aperte, então, forte, minha mão.
Tão perto, perto assim.
Colorido azul, como irmão:
Eu de você, você de mim.

Como cor de camaleão,
Até o chão, chovendo marfim,
A doce pele de teu seio
Vez em quando, sempre, em mim.

Bruta Lua, repleta de canção,
És a presença da pureza.
Essa prata lua de manjeiricão,
Como aroma da morte, com delicadeza.

Tú, Lua linda, mais profunda que tu mesma,
Sobrevoa a janela da manhã,
Derrama-me imenso mel de tristeza,
Inesquecível, como sabor de maçã."

João Miguel, 09/12/08

A Atriz

"Se eu fosse você provaria o nada
Ou ao menos aprenderia a levitar.
Não há morte, nem estrela que lhe diga:
Seu sabor é oliva, ou apenas sangue de luar.

Suprema. Pedra, fogo, tanto faz.
Não há canção que tua voz desafie o Sim,
Nem vazio, nem oceano de lágrima fugaz
Que não toque teus olhos em mim.

Do centro do ser ao palco de madeira
Tua nuca compõe o certo paladar do doce,
O samba dos tristes amores d'amoreira,
O aroma do quando. Esqueço o sobre.

Nem o tempo, inimigo do errado amor
Pode caminhar sobre ti, ele desiste.
O véu do choro é teu amigo maior,
O nunca, o nada, perto somente insiste.

Teu caminho é caminhar."


Com carinho, John.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O Dia

Hoje minha vida,
Sob um escombro,
Sobe, da solar
Indulgência, o ombro.

Noite entardecer breve,
Ainda que não na vida.
Na vida apenas emudece
O olhar contrário à saída.

Imorais pensamentos da sonolência
Quem, afinal, criticará a impermanência?
Frágil certeza dos Santos alimento.
Donos do futuro, lendários gerentes do tempo.

Hoje é o dia, dia negro;
Não à trevas, à pele.
Acordes soando adentro,
Eclipse musical do mundo.

Minhas palavras não são palavras.
Este verso não existe, apenas no não supremo.
Desista se o caminho é desistente.
Este verso não diz absolutamente nada,
Este verso sente.

O não-poema da ilusão

Ser ilusão.
Ser ilusão.
-Hum, curioso.
-Tem sabor de ossos de ente.
O ser ilusão transpira ilusão,
E seu suor... tem um aroma pungente.
Explicação da ilusão,
Será o sabor da mente?
Ser a alça, borda, mentira?
Como a morte de uma Rosa, eternamente.
Como a eterna Rosa,
Ilusória Rosa da morte,
A não-ilusão existe,
Certamente não se sente.
Absurdamente não se ilude.
A não-desilusão não se desilude.
Não vive, pois não nasce.
Não cobra, pois não morre.
A ilusão apenas socorre. "

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Esfínge

Sinto o gosto amêndoa em meu palato alto,
Reluzindo suas abóbadas, pele de ouro.
Sonhando queimar-te de dor, meu tesouro,
Meu coração já derrete seu salto.

Demasiado sabor asfixiado, firme em minhas mãos,
Dono dos aromas turcos enterrados n'areia,
Teu corpo explícito e diamante, explode!
Como pode? Derrama, em demasia, poeira.

Amo e detesto esta esfínge, de cabelos fáceis e negros.
Cheguei até a provar teu seio. Pobre de mim, fraquejo.
Por que sonho? Por que vejo-te, por que quero-te,
Dor que sustento, esqueço, o olhar?

Palavra

Amo-te tanto.
Teu ser, meu encanto.
Versos do amor cotidiano.
Versos do que nunca se vê:
Estes que agora canto
Por ti são de todo meu querer.
Resta perceber o enquanto,
A verdade, o sabor do prazer.
Ver as cores inverno nas flores.
Compartilhar a vaidade das árvores.
Banhar-se sob a Lua tão brilhante e trágica.
Amo-te no lento caminhar do velho
E no azul intolerável
De uma pétala de céu.
Cheiro de mato molhado.
Seu filho adormeceu.
Num supremo caminhar viver,
E alcançar, enfim, o nada.
Amo-te tanto, meu amor,
Palavra.
Amo-te tanto.
Teu ser, meu encanto.
Versos do amor cotidiano.
Versos do que nunca se vê:
Estes que agora canto
Por ti são de todo meu querer.
R

Nota

O quinto intervalo
Do flajelo desolado
Esconde-se nos escombros,
Nos sombrios assovios,
A frequência incansável.

Esta nota líquida,
Esta nota sem som,
Este som de nata,
Saculeja,
Quilombola de pele preta,
Esculacha.
Equilíbra.
Este som,
Sem som,
Sem si,
Sem vida.

A Fuga

O Segredo de esquecer
Vive num tronco forte.
Meus versos, duros como viver,
Furam-no como a morte.

Em que floresta ou estrela esquecida
Estão os dedos de marte?
Quem eleva, releva:
Pesar e dor, antes que te mate.

Sabor de pele quente.
Saliva doce, mestiça.
Meu poema guarda o que sente
Meu rosto repleto de brisa.

Louca manhã de Lua.
Suco de prata, pêras e fresas.
Em teu corpo meu músculo flutua,
Despe-se, e foge com a Lua às pressas.

E vai...
E vai...
Esvai...
Esvai...

Espetáculo

Entalo em talos estalos estátuas
Que esmagam e esmurram
Escarros de água de ralo,
De casca de calo,
Do júbilo D'esparta
Espadas, estacas,
E lâmpadas, ábacos,
Aço de plástico
Planando acrobático
Girando pneumático
Brandindo escarláticos
Rubores apáticos
De odor acreático
Soprando sinérgicos
Sopranos sarcásticos
Sem seu brilho
Sem seu cílio
Sem seu siso
Sem ser seu
Sem ser
Sem tecido
Ou sem
Ter
Sido...

Sopro

Contos de colírios
De colibrís à brisa
Em brasa, jovem flor
Deflagra a luz cinza.

Lágrimas pendulam da Lua
De tua rósea maçã sofrida
E teu seio ruivo, esfera de leite,
Nos poros de aroma da vida.

Da prata escorre meu pranto.
A claridade alforria meu septo.
De um cérebro tênue como um boto,
Brotam meus filhos decrépitos.

A sola da boca, a toca da noite,
Mecantam delírios de poucos açoites
E floram na rua e faunam distantes
Em sopros silentes, supremos, amantes.

Metamorfose

O ar do sono
Pesando na carne
Reune água D'amanhã
Em poros de Sol
Onde arde a noite
De meus olhos irmã.

Ouve-se o oceano
Nas conchas
Nas mãos
Estrelas que sugam
Leques de sinos
De orquídeas
Em galhos marinhos
Predando nos ninhos
De vespa e dragão.

Farejam, solitários,
Colméias de luz
Entardecida.
Metamorfoseiam,
Ao sabor de meteoros,
Lagos de orelha
Sem dúvida.

Medo Meu

Tenho medo do nada
Tenho medo do não-nada
De que tenho medo afinal?
Medo do medo?
Medo de mim?
O mundo não,
De mim o mundo há de ter medo!
Sou eu, sim!
O medo do mundo
O meu próprio medo,
Fora e dentro de mim
Ao mesmo tempo
Ao mesmo medo.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Rastro

Neste Finalmente o ar tornou-me esclarecida.
Rodeou-me a contentação esparssa.
Hoje fumei o último cigarro da minha vida,
Num último sopro seco, sem nenhuma graça.

Decidi não mais contemplar, da morte, as bodas,
Nem sentir aquele vento do desencanto e desesperança.
Tornar-te quem tú és, de uma vez por todas,
Para nunca esquecer a cor de minha criança.

Lágrimas nas veias... Imensidão de astros...
Por ele a morte golpeia, seguindo incansável os rastros.
Mas sei que reina em meus seios, o sumo da vida plena.
Prefiro, por quê não, uns filhos, cheios d'água e mastros.

Este abismo não mais me envenena.
Quero tremer diante da vida linda.
Morar, ao final, na raiz de uma lua.
Quero morrer e ser ainda.

20/12/08

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Outonão

Foi no entardecer de um verão moribundo,
Aparentemente muito normal, que floreceu
E logo, de súbito, feneceu, o fruto embrionário
Do calor dos sóis universal.
Desse embrião chamado Outono,
A vida veio receosa e letal.

E o frio dos tetos baixos, no inverno,
Inda é uma chama que se extingui cálida
E lentamente. Vivendo completamente
Seu fogo interno.

Lembrei-me da pedra lisa na fogueira
Vaporizando um café camponês:
Estimulantemente amigo.
Nestes dias de cores esvaídas,
Três tentativas de saída à beira,
E o fruto da escuridão regurgitou-se,
Fraco e tenso, cego em minhas tripas macias.

Sob a cama olhei um retrato de gente já morta,
No qual, segundo os sóis da noite,
Estava uma carta secreta para mim.
A receita da seiva quer ser criada!
E consumida em forma de sumo doce!
Nenhuma nuvem, nem ave ou castor
Puderam consolar-me naquele instante.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O Sólido

Na abstração
Do sólido
Nestes termos:
Nome da Vida:
Corte
Nome da Morte:
Nada
Nome do Nada:
Tudo
Nome do Tudo:
Eu.
Eu tenho o nome que tenho
E por este nome
Muitos orgãos não respondem.
Meu pulmão esvaziará,
Meu coração há de parar,
Minha mente cairá
Numa dormência inevitável.
Meu ego desistirá,
Meu tempo se esgotará
E iniciará sua contagem oposta.
Meus olhos não mais exergarão
Nem mesmo, naturalmente, a escuridão.
O nome da vida?
Morte.
A Morte,
Fecho do Corte.
No tempo, sabe-se,
Não há Norte,
Sul ou Sorte.
Nome da Morte?
Vida.
Balançeada
Equilíbra:
Vida, Corte.
Nada, Morte.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A poesia subconsciente é, após muitas reflexões sob campos estrelados, uma espécie de ponto central entre o que nosso pensamento propõe ser "racional" e "irracional". Acontece que, a fim de extrair uma pureza poética que satisfaça sua emoção, esse
A poesia subconsciente é, após muitas reflexões sob campos estrelados, uma espécie de ponto central entre o que nosso pensamento propõe ser "racional" e "irracional". Acontece que, a fim de extrair a pureza poética, o caminho certo é
A poesia subconsciente é, após muitas reflexões sob campos estrelados, uma espécie de ponto central entre o que nosso pensamento propõe ser "racional" e "irracional". Acontece que, a fim de
A poesia subconsciente é, após muitas reflexões sob campos estrelados, uma espécie de ponto central entre o que nosso pensamento propõe ser "racional" e "irracional"
A poesia subconsciente é, após muitas reflexões sob campos estrelados, uma espécie de ponto central entre o que nosso pensamento propõe ser "racional" e "irracional
A poesia subconsciente é, após muitas reflexões sob campos estrelados, uma espécie de ponto central entre o que nosso pensamento propõe ser
A poesia subconsciente é, após muitas reflexões sob campos estrelados, uma espécie de ponto central entre o que nosso pensamento propõe ser "racional" e "irracional". Acontece que, a fim de extrair uma pureza poética que satisfaça a emoção do poeta, esse ponto possui
A poesia subconsciente é, após muitas reflexões sob campos estrelados, uma espécie de ponto central entre o que nosso pensamento propõe ser "racional" e "irracional". Acontece que, a fim de extrair uma pureza poética que satisfaça a emoção do poeta, esse ponto
A poesia subconsciente é, após muitas reflexões sob campos estrelados, uma espécie de ponto central entre o que nosso pensamento propõe ser "racional" e "irracional". Acontece que, a fim de extrair uma pureza poética que satisfaça a emoção do poeta, esse ponto é
A poesia subconsciente é, após muitas reflexões sob campos estrelados, uma espécie de ponto central entre o que nosso pensamento propõe ser "racional" e "irracional". Acontece que, a fim de extrair uma pureza poética que satisfaça a emoção do poeta, esse ponto
A poesia subconsciente é, após muitas reflexões sob campos estrelados, uma espécie de ponto central entre o que nosso

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Assassinato do Carvalho

Descendo meus passos
Avenida branca abaixo
Sob o olhar das nuvens
Do matutino dia,
De encontro vejo cacos
De um corpo vivo,
Que morto - acredito -
Certamente não estaria.
Foi como se todo o verde daquelas copas
Decidisse nascer neste dia
Com a mesma missão:
Brilhar suas cores para sua irmã,
Despedaçada no chão.
Bandidos...
Patifes covardes...
Meus pés levitaram
Sob um véu de pérola
Que seu espectro, pairando no ar, expelia.
Agora morta logo tornar-se-á outono...
E o inverno sua dor amenizaria.
Um inverno eterno e infinito.
O Sol,
Astro materno,
Está escrito,
Ao muito doce paladar lhe convertia.
O mesmo sol
Que clareava os sons moribundos dos galhos
E rugia seu raio perfurante
Para o meio de seu corpo...
Um tombo...
E eu não pude impedir... foi por pouco.
Seguirei em frente meu caminhar?
Creio que prefiro
Sentar-me imóvel onde estou,
Por completo de resguardo.
Ao meio-dia
O Sol e o Verde perderam a cor,
E o meu dia
Faleceu
Dolorosa
E delicada-
Mente
Mais
Cedo.

sábado, 13 de setembro de 2008

Navegação

Após o balido
Algoz e bandido,
Meu sono despertou-me
Com mil estiletes
Carnívoros na escuridão do dia.

O que vejo no horizonte?
Cães como carvões
A roubar-me a luz
E a virgem com suas orelhas
Seduz, beijando a lua que nascia,
Correntes de dentes nas bocas,
O hálito das docas
Azulado de pérolas frias.

Ó Senhor da estalagem
Onde mais cedo eu bebia,
Veja as presas de sua morte aláda
Na pálida leoa que a ti vem esguia.

O espírito cria.
O dia diverte.
O lado da mão ardendo na espada
Chora salgadas lágrimas de
Montanha apagada.

Não menos que eu
A navegar no oceano de meu corpo.

domingo, 7 de setembro de 2008

Como Dalí

A janela.
Vejo a janela.
E a mosquinha por trás dela.
A brisa faz colidir ao máximo
Seus ferros,
Causando ruídos
Que me pertubam o sono.
A janela
Mede um e meio por dois
E sua cor é a cor que vejo,
Sendo pele de manhã,
Asas de pavão à tarde
E botões de orquídea cintilante à noite.
Para manuseio há um pegadô prata
Como a poeira de aço do chão lunar,
Resistente como o solo onde fora extraido
Em estado líquido e musgo.
Os vidros são cálidos.
Isso porque sugo-lhes o sol quando durmo.
O motivo da mornidade é a infinidade
De gafanhotos canhotos dispostos a morrer
Para doar todo seu calor ao vidro.
Na parte superior há duas janelinhas acrobatas acopladas
Que vivem silentes e rígidas, como Nós,
A não ser quando se espanta a guilhotina lateral,
Acionando um engenhoso mecanismo articular,
Como joelhos,
Que empurram-nas, magníficas, para fora da parede.
Elas colhem o vento tonto da rua
E o joga para dentro do cômodo,
Diretamente sobre meu peito,
Deslizando até minhas narinas
E uivando em meus pulmões.
Depois de expelido marcha de volta ao avesso, exterior a mim.
É este o momento que decido,
Como Dalí,
Aqui ou acolá,
Contemplar a janela.
Essa janela que me sossega.
As vezes até sinto sua falta.
Ah! Janela...

sábado, 30 de agosto de 2008

Eu

Ela é meu sentido, o parto ordenou isso. Amo-a além de qualquer possibilidade, vida morte, de que sou - misteriosamente - constítuido. Mãe, mão, tudo.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

...

Combinar a inteligência das pessoas é mais difícil que unir suas burrices.
Pense nisso.

Pétalas

Sofro de tanto meu peito
Rebentar suas fibras pungentes
Por justamente não comportar
Tamanha paixão brilhante em si.

Se sincero encravo (como mandamentos)
Em pele cores mornas que por ti cultivo,
É meu sussurro que provoca tempestades
E chove no inverno fios de pérola alva.

Momento em que tu, bela escultura rubra,
Capta o som levitante que tráz,
Imensamente, o calor do sangue
E da carne qual sou feito.

Oh! Como é formoso teu riso
Que de farto galanteio ouso adormecer
Em teu abraço. Quero teu convite para um
Passeio no por-do-sol de minh'alma.

Amo-te. Em sonhos ou divagações.
Amo-te. Em todas as canções que escrevo.

Quero tua nuvem de canela turca
E a folha d'aurora colhida n'amoreira
Mais próxima da madeira de teu jardim.
Anseio por mais de tua boca e tuas mãos.

Sinto-me então confesso e desnudo
Diante dos olhos que canto sem fim.
Despertado por cravos d'Espanha
E pequenos abris.

Rosa é a cor da pétala de céu
Que emerge de teus cabelos ventantes.
E a deste sobre tuas mãos macias a mim,
Que sofro ao florescer amores sem fim.

O bem, o bom e o mau também
Deliram sobre liras de notas
Inquietantes, dessas que trago pensante
Na sutil e doce aproximação de mãos.

Despeço-me despedaçado de amor
Em brisa recitando aládo.
Amo-te como outono mergulhado
Em grandes quantidades de romance:
Tola flor. Tola flor.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Aço

I

Filha platina
De teu ser semelhante
Traga-me fogo seco
E incensos fumaçantes

Levitarei meus pés
Sobre águas nuas
Em tua pele de verduras,
Como sóis ensanguentados.

Rastros de mim, uivantes,
Logo ouço impertinente:
Quantias profanas vibrantes
De braços e lobos valentes.

Febris cantos.
Descontentes gargalhadas
Em rins de ganso ameno.
Um brasão de prata armada.

Loas de brisa
Perfumam a lagoa.
Da Lua até deslizam
Afagos a toa.

Raízes de cor madura
Soam e roem amores.
Pulsam epopéicas gasturas,
Corroem sábios horrores.

Ouça-me Dama cálida rosada!
Verta chuva de leite anis
Nos alçapões da noite pálida.
Canções serão raptadas e ingratas.

Dentes rompem.
Mordem ferro.
Berros de homem, enfim,
Silenciam o grande inferno.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Saga de Signos

Cá estou eu sentado
Sob esta tenda esvoaçante
Onde vive o cafezal,
Vendo o preto e o branco
Das vacas obsoletas
A ceifar o trigo de seus dentes
E lambuzar seu umbigo
Sobre seu lombo sinuoso.

Ao profundo poente deste passador
Há nuvens de caramujos de leite
Em prosódicas deliberações, como cometas de chumbo,
E, como neon, dizem sons de boca:
"Soa tua loa ao luar. Moa tua canoa ao mar.
Doa a quem perecer...
Á margem nua da lagoa rever"

Súbitamente a elipse
De pedras de mercúrio
No avesso cósmico do céu
Expande a incrível massa de brilho marroquíno
Ao canto inferior direito
Deste cenário onde, antes vazia,
Eis minha mão esquerda extrapolada de astros.

Percebo, como um faro,
Que há um mistério nesse prateado lunar
Semelhante as cantigas eslavas
E as jasmins em forma de delírios,
Onde o verde fenece repousado
No macio mar de pétalas de chão.

Flores de amor brotam
Em lagartos ensanguentados,
Após serem suas próprias refeições, auto-devorados.
Um ruído. Ouve? Outro!
Há ruídos por toda a parte! Ouve?
Pois ouça então estas ruínas.
Trevas desmoronam sobre o crepúsculo
No doce joelho das pirâmides
E dos frutos das oliveiras sem músculo.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

9 Seconds to Go

1º Segundo

Hoje comemoro a solidão
De minha existência.
Não somente para saudar
Minha paz de momento
Que insisto em afirmar,
Mas cá sentado
Sobre verdes retorcidos
Destas veredas em forma de arquipélago,
Sinto novamente a cárie amarga
Que desatina sensualmente,
Como deuses míticos
Pardos de certeza.

2º Segundo

Os ecos de Rimbaud
Harpas de cobre ácido
Escorrem e recobrem Mallarmé
Brilham em meus pés de raizes
Que sugam o chão
Então O interior
De minhas dimensões
Terrenas e arenosas vê
Dissimula o instante,
A estante,
O restante,
O mago peso árduo da vigília.

3º Segundo

Como a dor de uma agulha
E então imensamente integrado
Venho Eu cá sentar-me
Sobre esta paisagem musga
Além de quantativamente poética
Para assim berrar à brisa
Que sobre meu rosto plácido desliza.

4º Segundo

Como que neve flamejante
Em torturas de ópio e verrugas
Repletas de castas
É pleno como quando respirávamos
Os segundos do amor de Nefertite
O por-da-tarde de amor trancado
E úmido em nossas palpebras
Sob o nascer de um sol carnívoro
Iluminado por uma espiral corrente e tênue
Que une minha alma ao ar da manhã
Assim como esta amplidão de giz e cobertores
Que durante meio período encobre
Todas as indulgências
Sobre as quais depositamos
O que desejamos ou repelimos:
O primeiro segundo após a morte.

5º Segundo

Vomito esse desejo
Que arranha as paredes
De meu fígado e rebentam
Em constelações de magníficas
Explosões dizimatórias.
Estas arrancam vêias e corações
De astros suspensos
Diante de meus ombros
Como se este cenário fosse a realidade
Digerida nas entranhas
De cabras e rãs do entardecer.

6º Segundo

A árvore transversal está mais perto
De minhas costas transparentes do que a Lua
Gigantesca de fermento e moléstias,
Comprimida ao centro.
Calado e sustentado por pulmões negros
Bufando névoas de uma pasta escura e apodrecida
De um vício cravado no centro de meu peito
(assim como a Lua)
E como uma orquídea de diamante
Que sustenta o solo.

7º Segundo

O solo. Enigmático.
Ele agarra seu caule e suplica
Por mais uma dose de tempo químico.
A esperança daqueles negros comprimidos
Alcalóides tépidos projetados
Em rasas docas de abssinto com mercúrio
Pitadas de trovão e contraceptivos alcólicos.

8º Segundo

E vertigem?
Ou seria fuligem?
Tampouco derretem.
Onde estará a origem?

9º Segundo

Hoje esmaguei meu corpo contra a parede com o dedo indicador
E tudo,
E nada também
Diz a meus desdobramentos
Que meu momento de paz é a celebração
Da solidão de minha existência.

Ritmo

Alma vagamente estéril

Alma vagamente estéril

Alma vagamente estéril

Almavaga mentes téril

Almavaga mentes téril

Almavaga mentes téril

Alma vaga mente estéril

Alma vaga mente estéril

Alma vaga mente estéril

Almava gamén testéril

Almava gamén testéril

Almava gamén testéril

Há uma vaga mente estéril

Há uma vaga mente estéril

Há uma vaga mente estéril

domingo, 17 de agosto de 2008

Uno

Estou sujeito a escrever trevas
Sobre papéis de nuvem e névoa.
Utilizo um elemento de força sólida
Um tinteiro de matéria humana em estado puro,
Que concilía teus negros universos
Á pura delicadeza de sentir-se um sopro
Ou uma sensação momentânea de que o presente
É um desdobramento de um tempo silente
Mas oportuno. Aceitar todas as infinitas
Possibilidades de trilhagem, sentir teu espírito
vagar sobre tua pele...
Posso tudo, afinal.
Posso escrever sobre tudo,
E tudo faz parte do meu universo.
Posso divagar a lua em canções flamencas.
Posso até tornar-me flor de pólen elegante,
E colorir todas as paredes do mundo com mais de mim.
Posso devorar insetos, lamber restos de chão.
Posso conformar-me que sou simplesmente imprevisível,
Enquanto cobro do meu frágil corpo
Eloquência, orgulho de qualquer coisa que afaste dor.
Diamantes malditos. Creio que um dia poderei fazê-los calar.
Ser poeta é ser imprevisivel.
É brilhar!
Tenho em mim todo sentimento do mundo.
E não culpem a mim, mas a ele.
Tenho carlos nos pés e mãos.
Tenho uma infantaria de gracejos obcenos
E pouco tempo para ser avesso e glória.
Ser apenas o que vier de encontro...
E boa memoria.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Prelúdio de uma morte

Ela conseguiu.
Neste corpo de mulher onde a alma é o cenário da vida,
Na distância das leis dos homens,
Ela consumiu sua essência perfumada de mortal.
Proferiu pródigas palavras.
Adormeceu nos contratos obscuros que,
Naturalmente, este corpo de mulher foi subjulgado a assinar.
Enfim, depois de todo esse tempo
- esse meteoro tempo -
Em cabides de ombros e regiões inóspitas da imaginação,
Em mente-ato onde espetáculos de cores e calores,
Sensações e orações,
O enorme, colossal e devastador meteoro colide
Trazendo toda a verdade e todo espinhoso mistério.
Frágil, o corpo de mulher sucumbe à pressão da colisão
E todo o vazio árduo do vácuo se resume no último segundo
Ao eterno e infinito pesar do nada sobre seus pulmões.
O peso do nada (após tudo) sobre teu umbigo.
O corpo equilibra-se sobre a tênue linha da silhueta da luz
E a escura e ampla imensidão da simplicidade de morrer alvorece em sua pele.
O turbilhão então colide. Concluí seu feito e segue em frente.
Sua carne descansa junto a seus membros, seus olhos, sua lingua,
Que por tanto tempo guiaram o caminho aberto do animal
Junto a seu profundo compadecimento, aceitação e reconhecimento.
Tudo fora levado para a incompreensão do vago soar da aurora dos mortos.
Para o esquecimento. Sacramentado por sua própria engenharia.
Dizem morte. Talvez.
Eu digo, porque necessito dizer,
Que é como o mais amargo e elegante acaso de uma harmonia.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Deserto

Isto é mais um sussurro contemplativo.
Nele direi que recebi um prêmio valioso
Para recarregar com ira e gozo
O tormento vulgar da folha de meu crânio,
Que flui sonolento sobre o mesmo casco,
Mesmo cesto que proponho-me aqui elogiar
Através destes versos acesos
No perene insignificado das coisas.

Surpreendente tíbia de minha velocidade.
Metálicos e temperamentais navios cargueiros
Despedem-se, desgastados por minha humanidade
Que insiste em aflorar ao avesso
Quando sinto-me defronte a porta contrária da vida.

Essa humanidade da qual sou constituido
Sucumbe aos meus desejos
De (que delícia!) saborear como um doce sumo,
Levitar como uma nuvem de vento,
A terrível emoção e extravagância,
A permanente e flamejante exuberância
De constantemente
Testar-me.
Fuzilar-me.

Numa parede de terra insípida,
Frente aos quadros e ramos
Da árvore principal
Feminina,
Beijei-a.
Eu a observava.
Descrevia o tom que sua nuca transpirava
Trovões e teias. As ondulações negras e
Bem reverênciadas pela fragrância de sua noite
Contemplavam a singela sinfonia divina de seus olhos.

Concordo que música naquele instante
Soprava ventos quentes que em meu rosto,
De repente, soletravam notas de mulher tímida
Contra a presença térmica dos aromas.

Foi onde brotaram,
Fantasticamente,
Como água nascente,
Camaleões de adeus.

Agrura

O amargo
Amargo.
Amargo.
O aspargo amargo.
O amargo do universo.
Universo amargo.
Largo amargo:
Largo universo.
Aspargo.
"O amargo largo do universo,
largo aspargo".
Aspargo amargo.
Largo aspargo do universo.

Um dia acordei do avesso

Um belo dia acordei do avesso.
Meus olhos possuiam um brilho claro
E quando despertei eles mergulharam num profundo breu,
Aparentemente inexplicável.
Os sons da janela semi-aberta,
A cortina aquecida pelo sol negro
E a eterna penumbra do meu quarto
Açoitaram meu coração e sentidos.
Ao cair de cara no chão cai de costas em flajelos de ferrões.
Mas o que é a dor quando não se enxerga a chaga?
De fato não me incomodavam os lampejos prateados
De meus sonhos falecidos.
Naquela escuridão, os clarões atingiam meu rosto como uma chuva de nuvens.
Quantas vezes, quantas frases longas que loucura nem delírio alcançam.
Podemos quando tudo e nada fundem-se num profundo galho de brisa,
Acordar como se tivessemos enfiado a cabeça no antônimo lado das coisas?
Frases longas.
Melhor encarar os fatos.
Um banho frio me faria bem.

06.08

Cor

Aquela tarde úmida e nascente soletrava meus passos de pensamento.
Cravei dois seixos em minha pele, naquelas nuvens de momento.
Giravam flores e saias frutíferas, como num imenso e novo carnaval.
Rodei mil vezes em meus sonos mornos, como quem espanta o mal.

Minha vila tinha céu azul e sol de espinhos flamejantes
Qualquer um que me visse caído em cama, não perturbariam-me o instante.
E qual dessas rosas sonho, senão aquela que me pariu o filho?
Penso que somente sopro minha vida, assim como dela faço meu caminho.

De minh`alma colhe o que já apodreceu nos galhos
Certo que não peço nada, nada além de seus frios calvários.
Logo a tenda de meus olhos abre-se numa nova paixão
Saciam sua sede com orvalho e cantam soltas na amplidão.

Não entendo essa gente que me duvida a longa palavra
Sempre têm que ultrapassar sua mente, como se fosse escrava?
Não lhes rogo mal infortúnios, nem lhes desejo sua ausência.
Breve de espanto e resguardado, sugo-lhes apenas a essência.

Tenho frios e pontiagudos dedos, que é para acalmar-me o pranto.
E quando, muita vez, me quedo externo de ser eu... Apenas canto.
Minha margem fulgura minha dormente dor de amante
Olha, pois, pega em tuas mãos depois, sofre logo a dor de adiante!

04.08