A janela.
Vejo a janela.
E a mosquinha por trás dela.
A brisa faz colidir ao máximo
Seus ferros,
Causando ruídos
Que me pertubam o sono.
A janela
Mede um e meio por dois
E sua cor é a cor que vejo,
Sendo pele de manhã,
Asas de pavão à tarde
E botões de orquídea cintilante à noite.
Para manuseio há um pegadô prata
Como a poeira de aço do chão lunar,
Resistente como o solo onde fora extraido
Em estado líquido e musgo.
Os vidros são cálidos.
Isso porque sugo-lhes o sol quando durmo.
O motivo da mornidade é a infinidade
De gafanhotos canhotos dispostos a morrer
Para doar todo seu calor ao vidro.
Na parte superior há duas janelinhas acrobatas acopladas
Que vivem silentes e rígidas, como Nós,
A não ser quando se espanta a guilhotina lateral,
Acionando um engenhoso mecanismo articular,
Como joelhos,
Que empurram-nas, magníficas, para fora da parede.
Elas colhem o vento tonto da rua
E o joga para dentro do cômodo,
Diretamente sobre meu peito,
Deslizando até minhas narinas
E uivando em meus pulmões.
Depois de expelido marcha de volta ao avesso, exterior a mim.
É este o momento que decido,
Como Dalí,
Aqui ou acolá,
Contemplar a janela.
Essa janela que me sossega.
As vezes até sinto sua falta.
Ah! Janela...
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