domingo, 20 de dezembro de 2009

Cílios ílios lios ios os s

Seria mais justo se eu perguntar de que vale o dia e a noite sem o romance? Enquanto isso eu causo ao meu corpo danos incríveis. Meu suicídio é constante e diário, vem em pequenos pacotes com vinte unidades. Morro. Não porque eu goste, mas isso me aproxima de qualquer coisa mais semelhante à não-vida.

Muitos amores, mas somente uma paixão. E por ela sou capaz de cometer atrocidades, nunca contra ela, sempre contra mim mesmo. Imagine uma canção onde eu possa dizer tudo que sempre quis que soubesses. Gostaria de ouvi-la? Pois bem. Ouça. Veja sua exuberância! Ah! O silêncio é mesmo a música mais completa que existe.

Sombras do universo. Anéis de fogo soprando galáxias. Estômagos de peixe flutuando por cantos ateus desse mar tão profundo, parem todos! Ouçam a minha música! Meu silêncio! Acredite, creio que nunca foi tão doloroso compor algo assim. E nem tente apertar o botão de emergência. Essa música não pode nunca ser finalizada. Ela prossegue como o tempo em nossas mãos. Como o tempo que nos encara todas as manhãs, a olhar pelo espelho.

Meu coração derrama notas suaves de uma beleza madura sobre você, como gemas de seiva bruta. Será que um dia poderás perceber? Elas percorrem teus cabelos negros, descem por tua nuca branca, acariciam o centro de teu peito macio e quente, e ficam dando voltas e voltas em torno de teu umbigo elevado.

Precioso instante do qual me orgulho. Minha música silenciosa alcança os teus dedos do pé e finalmente morre. Morre na terra. Renasce na forma de um fruto doce de qualquer árvore em teu quintal.

Não peço mais nada, além de teu rosto em lágrimas. Se para te convencer que tudo isso é verdade eu tivesse que laçar a lua e trazê-la um pouco mais próximo de tua janela, assim o faria. Mas o quê eu realmente posso fazer? O desamor dói em mim, porque toda minha sinceridade fere a tua carne com tanta força, que quanto mais eu grito aos ventos: “Eis meu coração! Tome-o com suas mãos e aperte-o contra o seu! Você verá que não minto!”, quanto mais eu quero-te viva e sorrindo, mais distante seus órgãos se vão de mim.

Se nada é possível nesse mundo em favor da minha verdade, resta-me o lento suicídio, cheio de romance e de profundas amarguras ao sol da meia-tarde.

Lágrima, fumaça, poesia, silêncio. Estou em casa, mas este não sou eu, talvez. Talvez este seja um eu que não mais quero que exista aqui do lado fora. Do lado de fora, apenas quero não querer. Estou pronto para ver todos os filmes mais tristes e trágicos, sozinho.

Estou pronto para correr numa estrada florida, com aroma de cevada e trigo em cavalgada com a brisa. Estou pronto para morrer atropelado por um meteoro em chamas. Mas este não sou eu.

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