domingo, 13 de dezembro de 2009

Um pouco de Fluxo (In)consciente

... Esta noite eu quis te despertar de um pesadelo horrível. Eu também vivia o pesadelo. Quase pude ver as gotículas de suor escorrerem em seus cabelos. Eu pensei tanto em você que, mesmo a uma distância de infinitos anos-luz, quis acordar você daquele sonho turvo, incerto. Já vou indo, até mais...

... E tem início a orquestra. O clarinete assumiu como o flagelo principal de uma estrofe encantadora, mas a tuba... A TUBA, berrou até o último expectador sentado no alto de uma montanha do polar antártico que parasse de pensar, sentir, sentir os ramos do quadro pintado por todas as mãos que conduzem os violinos incessantes, como escarros, como pedras fluindo no vagar da imensidão cristalina de textura exatamente igual aos tímpanos que perfuram o cérebro do maestro flácido, de gênero semelhante ao acordeon que surpreendeu a todos os compositores clássicos que adormecem hoje no mais agudo espinho da roseira mais fria, tão fria que seus espinhos e dedos começaram a dançar numa frenética espontaneidade de movimentos, distantes e sozinhos em suas respectivas covas, uma na Espanha, outra nas ilhas pacíficas do continente nórdico, outras no vácuo do caminho entre a teia negra e impalpável do espirito de cada músico daquela orquestra vazia e imensamente completa...

...Eis que sim, pois não! Ora, ora ,ora não te preocupes, ninguém canta mais às bordas do albatroz angustiado por sua inteira vida, vida tola de brancura que nem mesmo seus bicos dourados poderão fazer calar, num infinito propagado de cores e sick blues de mortes negras às margens do rio mississipi down to new orleans, onde foram criados mudos, os dedos de hank willians ou as cordas de tripa vocais de robert johnson que escapam numa sombra internada sobre imensos olhares de peixe morto dentro de um caixão podre e mal acabado. Tanto melhor se o sopro de minha mente puder fluir dessa forma para que o céu azul torne-se um pretexto que minh'alma se aposse de fel e carne de lobo, para enxergar melhor o albatroz e o cordeiro do pastor, que se chama meus pés!...

...e mal dissimulado! BEM DISSIMULADO! Um "bend" simulado, nas mãos de um jazz man...

...primeiro, PARA! Eu quero descer. Deste momento em diante, narro o tocar de meus pés na água de fogo para guiar minha canoa de gengibre entre os afluentes mecânicos que surgiam durante todo o meu dia, sobre esta aventura terrivelmente simbólica e imprudentemente absurda! Pois que se faça o vento, bem-te-vi voador que avoa o maior voo que é capaz de experimentar. Pois no caminho a mente decide se perder, e tão de repente, o passarim é esquecido pelos raios de água turva que brotava como anêmonas e traiam as más digestões de todos os sapos cantores e seus compatriotas severinos brócolis, filhos de um homem cabra-da-peste, homem de mar pra lá das veredas desse universo preto, encima das cabeças de quem quiser olhar para ele, junto a foz do riacho mais distante no oceano imenso que é a loucura do gafanhoto pregado nas armas dos olhos da pílula cega e morteira, nas cozinhas do patrão demoli meu coração de alho macerado em oliva fresco...

... Hoje meus sons que dão, que dizem que não dão, doaram junto ao Dom com seu dedão, e darão muito mais amanhã, boa noite!...

...Instantaneidade, estou em jejum! Espere! Lá vem ele, está escorrendo em minha língua, oh, sim! Um pouquinho de leite, meia colher de chá de açúcar! Ah! Que sensação maravilhosa! Parece que engoli uma pedra, não descarto os cristais de terra agregados. Meu corpo, nesta manhã, o trato como lentes de um endoscópio preciso. Queria cortar esses glóbulos de vômito e dor que estão gemendo dentro de mim... seria melhor um murro na vesícula biliar...

... Rápido! Rápido! Preciso sair daqui! É preciso que me levante antes que a hora chegue. Se ele entrar por aquela porta, eu estarei completamente perdido! Não poderei mais, não posso mais... ele é escuro, tão líquido que por meu esôfago escorrem, para minha surpresa, ácidos e cabeças de parafusos transtornados. NÃO POSSO MAIS! TIRE ESSE CAFÉ DAQUI, que loucura que é a inteira fluência daquele pó amargo e encantador, irmão da fumaça, filho da razão e estimulante corporal sem comparações com qualquer espécie de erva que se toma quente...MAS CHEGA! NÃO POSSO VER ELE ENTRAR! Aquele rapaz breve e com sorriso ameno, como se não nutrisse nenhuma mal intenção, todas os dias, nesse mesmo tempo, se aproxima no auge de minha fome, quando nada há em meu estômago além de poucos resíduos e fluidos metafísicos, dos quais o sabor, de fato, não aprecio. Então, se eu tomo, é como se uma flor marrom nascesse no interior de um deserto africano e uma enorme bola de fogo tragasse meu interior pelo avesso. Ó meu deus, lá vem ele, eu posso ouvir os passos de rapaz, eu posso ouvir as xícaras estalando na bandeja, posso sentir o cheiro do leite em pó e a secura do açúcar cristal. E lá dentro, lá no interior daquele bule lindo, com iniciais da nação gravadas como úlceras, o mergulho para o inferno se desloca como marés selvagens que chocam suas ondas vespertinas sobre rochedos. Preciso fugir agora! Estou indo! Lá vem ele! Não!...

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