sábado, 22 de agosto de 2009

Fora de Época

Rain drops saturday
Chovendo, chovendo, chovendo!
Chove essa água de agosto,
Chove essas pedras.
O ar estava mesmo seco.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Golpe

Esta tamanha dor me atordoa!
Quero guardá-la num tonel de pinga...
Arrueiros, ossos da caatinga,
Entoo música, alma só, pessoa!

De que lhe vale, Nero, o ouro bandido?
E o tépido trote d'mada?
Seria doce luz a madrugada
Chamar seus olhos por seu apelido?

E uma lágrima me aprofunda
Num soberano mar de sentimento.
Voando baixo sobre o firmamento
Ao céu de fogo ao som do samba e rumba.

Comi virtudes. Vou colhendo estradas.
Escoregando em minhas falcatruas!
Servi ao bel prazer da propria amada,
Amando o terço das mulheres nuas!

Poria o sol na pista de um soldado
Que lutaria contra a própria pança?
Seria o encanto do desencantado,
Ou sua alma que em mim balança?

Formei os frutos do esquecimento
E camuflei o sumo do passado.
Entre o presente, um muro de cimento,
Confiro o amor e morte resguardado!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ainda

Para você, que eu não conheço
Mas que amo e, alías, que sempre amarei.
Eu prometo que serei o que tiver de ser.
Juro, você saberá dos pedaços de minha vida
E me será de frágil textura quando dormir.
Quando tu chegar e eu estiver sozinho
Vai ver aquela flor de todas as cores, sozinha.
Quando pousar em mim, como o sol num vasto oceano,
Serei o que te entrega a vida, linda e nua!
Como a noite, serei o escuro de tua sonolência,
O sopro de ar morno que aquece teu rosto.
Quando tu caminhar no deserto do sonho que desatina,
Serei a chuva de pequeninos olhos e pingos de prata.
Apenas serei minha alegria, amarei teu amor.
Como uma raiz, contemplarei o sentido único
Da tua presença. Molhas meu rosto de lágrimas
Quando sorri, quando torna-se minha casa quente.
Você me faz parecer menos só... sozinho sempre.
O instrumento de música que faço será para você,
E para tudo que encontrares no caminho.
Quando você me olhar daquele jeito,
Sentirei o amarelo forte, também o vinho.
Quando me tocar e sorrir, intenso rosa.
Mãos pequeninas, alma infinita como a minha,
Que eu amo e sempre amarei,
Sabendo pouco, quase nada,
Quem é você, ainda.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Repente Repentino

Vamos pegar o trem!
Vamo pega o treim!
Vamos pegar o trem!
Vamo pegá o treim!
Ramo pegá o treim!
Ramos pegá outrem!
Ramo pegá o traim!
Ramos pegá outrem!
Vã mospegar o trem!
Van mospegar otreim!
Vã mospegar o trem!
Van mospegar otreim!
Ramo regar o rei!
Rã morrigual o rim!
Ramo regar o rei!
Rã morrigual o rim!
Vamos cegar o reino
Vá morcegar o gim!
Vamos cegar o reino
Vá morcegar o gim!
Vamo chegar mais cedo, ômonêna!
Ramo xegá mar tarde!
Vamo chegar mais cedo, ôneguinha!
Ramo xegá mar tarde!
Pindoca para o Remo!
Pinduca pindurado!
Pindoca para o Remo!
Pinduca pindurado!
Ramo corre ligero!
Ramo fugi no ato!
Ramo corre ligero!
Ramo fugi no ato!
Risoca pra rizeiro!
A arroz de tipo condenado!
Risoca pra rizeiro, ômainha!
Arroz de tipo estragado!
Remo reboca a rua, ruela!
Ramo indo para o sul!
Re-reboca-car a rua, ôpretinha!
Inuinu para o sul!
Inuinu parunór!
Inuinu parosú!
Inuinu parulés, ômagréla!
Inuinu pararacaju!
Volta volta que eu te mando!
Volta fica por favor!
Se não volta a volta não diz nadômianêga!
Volto para minha dor!
VAMOS PEGAR O TREM, CAMARÁ-Ê!
VAMOS PEGAR O TREM, CAMARÁ!
VAMOS PEGAR O TREM, CAMARÃO!
VAMO PEGÁ O TREIM, CAMARÁ-dá!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Abismo

O homem que sorri a todos indistintamente,
O faz por esconder verdadeira tristeza
Nas profundezas da alma,
Sem ter calma,
Sofre como se tua outra mão
Fosse igual a outra mão de seu pior inimigo.

Sobrevoar nas órbitas do espírito
Com júbilo,
Coragem,
Quem sabe apenas rezar sem saber,
Quem sabe?
Serei eu o nome que todos pronunciam?
Pouco.
Muito Pouco.
Longe de mim,
sim, impossível!

Como gelatina velha, como sabor de casca de árvore,
Serei somente eu meu cúmplice?
Bobagem, quer mais?

Eu tenho que confessar:
Amo alguém que frequenta meus olhos,
Como o mar. E assim como o Sol,
Toca no horizonte sem encostar,
Porque hão de se amar eternamente,
Sem nunca poderem se abraçar,
Pois, ao seu encontro, do mar
A água há de tornar-se nuvem,
E o fogo do Sol se extiguirá.

Mas a minha tristeza,
Minha fragilidade secreta,
São suficientes para mim.

Isto é um exorcismo.
Não suporto mais escrever sobre mim
Envergonhado do mundo.

A raiva tem pressa, se apossa,
Camufla-se nas entranhas.
Torna-se orgânica.
Quando passa só deixa passos
Da incoerência.

Livre-se disso!
Meta a cara nos versos!
A cara da tristeza nos compassos!
No vaso sanitário,
Dê descarga como se fosse
A merda mais repugnante que suas pregas
Jamais regurgitaram!

Foda-se! Burgueses de merda. Serei merda como vocês?
Abandono, será possível alguém também sentir isso?
Tantas comoções...
Por uma simples lembrança...

Para o diabo com você. Eu te odeio.
Eu sou um escroto. Um canalha.
Sou vil como o véu da morte
Do veneno da cascavél de um vício,
Calçificada em tua calçada diária.
Destas palavras desista agora!

Vire esta página. Desligue tudo, sei lá.
Vire o rosto para o lado, não leia mais.
Se não o fizer vomitarei meu brilho
Em tua direção, cego e poderoso, fétido.

Decidi que isso não é mais problema
Para uma criação estupenda como eu.
Um homem chora por ser demasiado feliz.
Muita felicidade leva ao abismo,
O choro alivía.
Recolhe os frutos caídos no chão do pomar
Depois da ventania.

Nunca saia de casa sem pensar em mim.
Como legado, porque desejaria ser lembrado?

Jovem moça, velha moça. Capture aquela noite.
Capture as estrelas, olhos, ameixas, soleiras,
Morangos, morcegos, línguas... Esqueçam!
Agora, talvez, nunca mais sejam os mesmos.

Passe bem o dia, noite ou tarde.
Mas por favor, alma, não se faça de covarde.
Mergulhe, salte, arrisque toda sua quantia!
Odeie minha carne, Queime-a no fogo infâme!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Eu sou uma fratura, cega e sem pudor.
Sou uma pessoa impura, sem moral nenhuma como guia.
Tenho a mesma sensibilidade que uma rã, ou um camaleão,
Porém sou mestiço devido aos meus traços vis e obscuros.
Eu procuro declamar a todos que pouco me lixo às suas expectativas,
Pois odeio meu reflexo tal que não produzo alegria, nem planos, nem felicidade.
Vivo num quarto vazio sobre os pés de todos os outros. Os outros.
Vizinhos perfeitos, amigos fiéis e amantes puros.
Sou um asco na boca das pessoas próximas.
Quero cagar na mente de todos que satirizam e se horrorizam com minhas atitudes bizarras, impulsivas sempre que posso, ou devo.
Derreto meus pés no peito de quem me trair.
Suplico por um momento de pureza total e o que recebo em troca, na maioria das vezes, é distância, distante, tão distante, totalmente longe de alcançar.
Não sou como todas as pessoas que guardam seus órgãos genitais dentro da enclausura de seu caráter previsível e familiar.
Meu caráter é um veneno.
Que mantêm sentimentos tão modernos que minha mente de bicho pelado não suporta compreender.
Quero ir embora daqui, pois parece que minha busca é falha.
Vou para outro lugar, outro país, outro planeta, outra galáxia, outro universo, outro, outro... outro
Sentido, crença de outra vida, eu não desejaria, nem que me matem, sobreviver ao lado de vocês imundos, irmãos de sangue e palavras, sujos como pombos encerados de avenidas transcendentais.
Fora de mim, não desejo sua pureza, nem aceitação, nem pronúncia.
Eu acato apenas a sua renúncia. Renuncie daí, que eu renuncio daqui.
Como uma troca formaremos uma nova aliança com os braços.
Eu apenas ignorarei sua carne enquanto não queiras queimá-la junto à minha. Esquecerei sua imperfeição de maneira que você não precisa mais brincar de se esconder.
O caminho é melhor quando aos poucos.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Ela

"Olhos doces
De quem quer bem.
Palavras sutis
Que adentram suavemente
A alma.

Abraço apertado e caloroso.
Sorrisos descompromissados,
Sem aviso prévio.
Encontros
Esporádicos
Enfeitiçados.

Magia...
Mágica de tornar-se uno.
E então a simplicidade
Que se transforma
Em grandeza".

R.F

sábado, 18 de julho de 2009

Mosquinha

Quem rende-se a tudo
É porque ama muito.
Ama em demasia.
É o vício de cor vazia.

Tramas de cor verde
Que sente por dentro
Contrações, fome, sede,
Frágeis folhas de coentro.

Teus poucos versos,
Tua sóbria rima,
Tão louca quanto a minha
Tão pouca e mesquinha.

Pouca e mosquinha.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

rio que Rilke riu

Eu não me aguento, não me quero.
Não posso me levar.
Toda esta fumaça, este inferno,
Esta beleza perdida e despedaçada,
Esse caos em meu sangue.
Fuligens cotidianas.
Sempre dentro, sempre fora.
Palco de sucesso e derrota: meu peito.
Serão estas cenas palavras de poesia?
Poesia. Túnel de rosa, luz de vento,
Irmã mais pura da esquizofrenia.
Ninguém mais está a salvo.
Morram todos em tempo lento,
Ou tornem-se flechas, ao invés de alvos.
Praga, prole, punho, puta, PARA!
Salva-vidas não flores de forma alguma!
Não flores salvar nada além de si!
Alma penada, sofredor divino!
Interrompa esta chaga,
pátria, prata, hino!
Vai te embora filho do desejo.
Vá e não volte tão cedo.
Abre-te como um pássaro ingênuo.
Não cante além de mim!
Vontade de socar o mundo
Com toneladas de filosofia imunda.
A limpeza é triste,
E o homem que muito sorri
É que guarda muita tristeza em si,
Como um rio enorme que vive,
E morre aos poucos enquanto resiste.
RESISTE!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Outonão

Foi no entardecer de um verão moribundo,
Aparentemente muito normal, que floreceu
E logo, de súbito, feneceu, o fruto embrionário
Do calor dos sóis universal.
Desse embrião chamado Outono,
A vida veio receosa e letal.

E o frio dos tetos baixos, no inverno,
Inda é uma chama que se extingui cálida
E lentamente. Vivendo completamente
Seu fogo interno.

Lembrei-me da pedra lisa na fogueira
Vaporizando um café camponês:
Estimulantemente amigo.
Nestes dias de cores esvaídas,
Três tentativas de saída à beira,
E o fruto da escuridão regurgitou-se,
Fraco e tenso, cego em minhas tripas macias.

Sob a cama olhei um retrato de gente já morta,
No qual, segundo os sóis da noite,
Estava uma carta secreta para mim.
A receita da seiva quer ser criada!
E consumida em forma de sumo doce!
Nenhuma nuvem, nem ave ou castor
Puderam consolar-me naquele instante.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A Dor do Amor

A dor do amor
É a rima da tristeza.
É gota de suor
De um corpo (copo) sem certeza.

É um golpe de mestre
Que estraçalha pensamento.
Que sossega quando esqueçe...
Quando cansa do momento.

É a flor que brota escura
E não divide sua beleza.
Não canta, não ri e não dura...
Chora enquanto acesa.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Camarada

Ó menina bonita
Deixe a tristeza passar
Porque está tão decidida
A não me acompanhar?

Ah não, pense na vida!
Assim não pode ser.
Não vê? Não percebe?
Sem você é difícil viver.

Uma coisa eu te digo,
Me dá vontade de viajar!
Sair pelo mundo antigo,
Quem sabe até velejar!

Porque o tempo é nada
Logo passa, logo acaba.
Mas você continua a melhor companhia,
Menina bonita, camarada.

terça-feira, 23 de junho de 2009

"Já que eu não posso te levar, quero que você me leve."
Lõbão

Sérgio

Esse amigo meu que te conto
É artista, joga baralho e toca tuba.
Não se preocupe se perder o bonde,
Esse ai é um garoto da mata, da noite, de cuba.
Esse cara é a cara de todo mundo.
Minha cara, tua cara, cara de tudo,
Até cara de pau se preciso
Pois nesse mundo o preciso não é tudo
Só o respeito acima do recado:
Esse cara é uma benção,
Vinda lá do outro lado.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Poema de Vinho

Rubores desta página manchada
São canções do descontexto.
São como ruas de flor cálida,
Como eu, amando sem nenhum pretexto.

Penso, aliás, se estas uvas engarrafadas
Ousarão expurgar minha dor aos ventos?
Sob a prata intercalada,
Terão lido meus lamentos?

Alvo de fúria desregrada,
Sobre a fátua pérola de minha nuca,
Outra pedra tornou-se bruta
No canto da noite, em mim sulcada.

A minha falta de ira goza, em maio,
Subitamente, sua falta de pejo.
Das frias pradas do oriente entalho
Estas palavras trazidas no ensejo.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Lágrima de Sal

Dias de maio.
Fúria.
Hálito após o ensaio.
Rubi no céu da boca.
Tua lua rebelde e louca,
Sã e pouca,
Fosso que caio
Quando o prazer cobre
A dor espúria,
À carne transpira nua,
Rouca.
Derrama cabelos frágeis,
De tua nuca
Chorando em mim,
Sulcam com poucas
Pétalas de ópio
A seda dos seios carmim,
Dourada de noite.
Ao final,
Soprou, cedeu e adormeceu
Enfim,
Lagrimada de sal.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Verso

Ande por caminhar,
Estacione na vaga.
Desistir se o caminho
É desistente?
Este verso não diz
Absolutamente nada,
Esse verso sente.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Centro

Há o ato do tempo
Nos pingos de tinta
Dos sinos que abrigam o silêncio.

Quebrando às águas do vento
Ao final da vida sucinta
O que mente a espuma de dentro.

E nem que o fruto se ressinta
Será suspensa a razão do centro
Quando de uma mãe a outra desminta.

Serei para sempre atento
Ao sol do dia que brilha
Enquanto sugar-me ar adentro.

domingo, 29 de março de 2009

Corpo Morno

Nos matam
Unicamente
Por se amarem
O senhor tempo
E a total perdição
Em meu, seu
Corpo morno.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Canção Distraída

Como a noite você dança
Ao redor de mim balança
Com suas tranças esquecidas
E sua bolsa de marfim

Sobre o palco que é o chão
A eterna serenata diz não
Há uma ponte sobre as lágrimas
Que chovem sem fim

E ultrapassa os automoveis
E essa estrada segue as nuvens
Do seu arco de estrelas
Do seu quarto cor de carmim

E o seu morno travesseiro
De sua nuca tem o cheiro
Atravessa-me inteiro
Como um galho de jasmim