terça-feira, 29 de setembro de 2009

O que será que serei eu?

O que será que serei eu?
Um comedor de cal e caracóis?
Uma folha verde que sossega na fumaça?
O primeiro traço de um bebê,
Ou o último traço de um artista?
O que será que serei eu?
A voz real da pessoa amada?
Uma fuga pelo teu próprio caminho?
Um naco de nuvem nanica,
Ou o riso daquela morena?
O que será que serei eu?
O vigilante de um castelo em chamas?
Um murro que levamos na costela?
Uma breve jornada para casa,
Ou uma última volta ao mundo?
O que será que serei eu?
Um ser que ama em desespero?
Um ser que chora pelo infinito?
Uma pedra que rola no abismo?
Uma paixão que te torna aflito?
O que será que serei eu?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Formosa

Quem me dera
Poder mergulhar
No mar dos olhos
Dessa menina

De pele clara e rosa,
Oceano que não termina,
Frágil como uma casa,
É seu narizinho, Marina.

Se eu pudesse guardar o mundo
Seria na tua voz que rima.
E quanto menos o tempo passa
Maior o desejo que desatina.

Logo eu fui te conhecer
E suas mãos tão pequeninas
Fez da minha voz meus versos,
Pois ser livre é minha sina.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Essa história de vida...

Essa história de vida...
Me impressiona à beça...
Tento sempre tanto...
... ser nada.
Ah, meus olhos de sangue
Supremos, em fogo, ligeiros.
Rachando seus glóbulos vermelhos
Num aborto totalmente eficaz.
Arando o solo da pele,
Cozendo chás e sóis.
Melhor era todo essa amor se acabar,
Ou talvez recomeçar seu voo.
Gosto da vida como ela de mim.
Gosto da maneira com que brotam,
Afloram e depois florescem, as palavras.
Nos incumbindo de libertá-las,
Sempre mais,
Uma por uma,
De todo o nosso julgamento de dentro.
Aliviando nosso sofrimento
Por exprimir num único tom...
A vida. Que ainda me impressiona.

sábado, 12 de setembro de 2009

Debussy

Porquê é isso, é a vida.
Como o tempo é a vida.
Vida. Palavra estranha, tão imensa...
Vida. Olha aí! Quanta amplidão...
Lá vem ela, sempre.
Também pudera. Sempre imaginei
Coisas assim, imensas e infinitas...
Sempre imaginei a vida, imagino.
E sempre eu quis esquece-la,
De todo o meu coração... mas,
Prepare-se! Aí vem ela, toda, completa,
Olha ela! Olha ela! Viu? Não viu?
Calma! Não se preocupe, dê uma risada.
Logo logo ela vem denovo, e quando vem...
É sempre simples. Sempre inteira.
Não há alternativa, vê? A vida é pra valer, durona.
E eu me pergunto numa situação dessas:
Sabemos que um dia experimentaremos
A não-vida, por eternas partículas de...
De...
De...(bussy)
De...(bussy)
Dê!
Dê!
Dê(bussy)!
Dê para mim essa palavra eu preciso dela!
Vamos lá, vamos lá, vamos!
A palavra João...
A palavra...
"Clair de Lune"
O quê?
"Clair-de-Lune"...
Sim!
Sim?
"Clair de Lune"! É ela!
Encontrei a palavra!
Experimentaremos, inevitavelmente,
A não-vida, por
Eternas
Partículas de
"Clair de Lune"

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Menina

Moça cor do planalto
Pele azul ouro índia,
Negra e linda,
Rosto de brisa,
Cabelo de prata mais alto
Bravura de Deusa, mito,
Sombra de flores, em bons ares,
É morada da mata, ato frágil.
Meu frágil, macio abril, mulata,
Despetalado nessa moça,
Mel de árvore nasceu.
Essa canção tímida
Quero que você ouça,
Porque já amanheceu.