Sinto o gosto amêndoa em meu palato alto,
Reluzindo suas abóbadas, pele de ouro.
Sonhando queimar-te de dor, meu tesouro,
Meu coração já derrete seu salto.
Demasiado sabor asfixiado, firme em minhas mãos,
Dono dos aromas turcos enterrados n'areia,
Teu corpo explícito e diamante, explode!
Como pode? Derrama, em demasia, poeira.
Amo e detesto esta esfínge, de cabelos fáceis e negros.
Cheguei até a provar teu seio. Pobre de mim, fraquejo.
Por que sonho? Por que vejo-te, por que quero-te,
Dor que sustento, esqueço, o olhar?
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Palavra
Amo-te tanto.
Teu ser, meu encanto.
Versos do amor cotidiano.
Versos do que nunca se vê:
Estes que agora canto
Por ti são de todo meu querer.
Resta perceber o enquanto,
A verdade, o sabor do prazer.
Ver as cores inverno nas flores.
Compartilhar a vaidade das árvores.
Banhar-se sob a Lua tão brilhante e trágica.
Amo-te no lento caminhar do velho
E no azul intolerável
De uma pétala de céu.
Cheiro de mato molhado.
Seu filho adormeceu.
Num supremo caminhar viver,
E alcançar, enfim, o nada.
Amo-te tanto, meu amor,
Palavra.
Teu ser, meu encanto.
Versos do amor cotidiano.
Versos do que nunca se vê:
Estes que agora canto
Por ti são de todo meu querer.
Resta perceber o enquanto,
A verdade, o sabor do prazer.
Ver as cores inverno nas flores.
Compartilhar a vaidade das árvores.
Banhar-se sob a Lua tão brilhante e trágica.
Amo-te no lento caminhar do velho
E no azul intolerável
De uma pétala de céu.
Cheiro de mato molhado.
Seu filho adormeceu.
Num supremo caminhar viver,
E alcançar, enfim, o nada.
Amo-te tanto, meu amor,
Palavra.
Nota
O quinto intervalo
Do flajelo desolado
Esconde-se nos escombros,
Nos sombrios assovios,
A frequência incansável.
Esta nota líquida,
Esta nota sem som,
Este som de nata,
Saculeja,
Quilombola de pele preta,
Esculacha.
Equilíbra.
Este som,
Sem som,
Sem si,
Sem vida.
Do flajelo desolado
Esconde-se nos escombros,
Nos sombrios assovios,
A frequência incansável.
Esta nota líquida,
Esta nota sem som,
Este som de nata,
Saculeja,
Quilombola de pele preta,
Esculacha.
Equilíbra.
Este som,
Sem som,
Sem si,
Sem vida.
A Fuga
O Segredo de esquecer
Vive num tronco forte.
Meus versos, duros como viver,
Furam-no como a morte.
Em que floresta ou estrela esquecida
Estão os dedos de marte?
Quem eleva, releva:
Pesar e dor, antes que te mate.
Sabor de pele quente.
Saliva doce, mestiça.
Meu poema guarda o que sente
Meu rosto repleto de brisa.
Louca manhã de Lua.
Suco de prata, pêras e fresas.
Em teu corpo meu músculo flutua,
Despe-se, e foge com a Lua às pressas.
E vai...
E vai...
Esvai...
Esvai...
Vive num tronco forte.
Meus versos, duros como viver,
Furam-no como a morte.
Em que floresta ou estrela esquecida
Estão os dedos de marte?
Quem eleva, releva:
Pesar e dor, antes que te mate.
Sabor de pele quente.
Saliva doce, mestiça.
Meu poema guarda o que sente
Meu rosto repleto de brisa.
Louca manhã de Lua.
Suco de prata, pêras e fresas.
Em teu corpo meu músculo flutua,
Despe-se, e foge com a Lua às pressas.
E vai...
E vai...
Esvai...
Esvai...
Espetáculo
Entalo em talos estalos estátuas
Que esmagam e esmurram
Escarros de água de ralo,
De casca de calo,
Do júbilo D'esparta
Espadas, estacas,
E lâmpadas, ábacos,
Aço de plástico
Planando acrobático
Girando pneumático
Brandindo escarláticos
Rubores apáticos
De odor acreático
Soprando sinérgicos
Sopranos sarcásticos
Sem seu brilho
Sem seu cílio
Sem seu siso
Sem ser seu
Sem ser
Sem tecido
Ou sem
Ter
Sido...
Que esmagam e esmurram
Escarros de água de ralo,
De casca de calo,
Do júbilo D'esparta
Espadas, estacas,
E lâmpadas, ábacos,
Aço de plástico
Planando acrobático
Girando pneumático
Brandindo escarláticos
Rubores apáticos
De odor acreático
Soprando sinérgicos
Sopranos sarcásticos
Sem seu brilho
Sem seu cílio
Sem seu siso
Sem ser seu
Sem ser
Sem tecido
Ou sem
Ter
Sido...
Sopro
Contos de colírios
De colibrís à brisa
Em brasa, jovem flor
Deflagra a luz cinza.
Lágrimas pendulam da Lua
De tua rósea maçã sofrida
E teu seio ruivo, esfera de leite,
Nos poros de aroma da vida.
Da prata escorre meu pranto.
A claridade alforria meu septo.
De um cérebro tênue como um boto,
Brotam meus filhos decrépitos.
A sola da boca, a toca da noite,
Mecantam delírios de poucos açoites
E floram na rua e faunam distantes
Em sopros silentes, supremos, amantes.
De colibrís à brisa
Em brasa, jovem flor
Deflagra a luz cinza.
Lágrimas pendulam da Lua
De tua rósea maçã sofrida
E teu seio ruivo, esfera de leite,
Nos poros de aroma da vida.
Da prata escorre meu pranto.
A claridade alforria meu septo.
De um cérebro tênue como um boto,
Brotam meus filhos decrépitos.
A sola da boca, a toca da noite,
Mecantam delírios de poucos açoites
E floram na rua e faunam distantes
Em sopros silentes, supremos, amantes.
Metamorfose
O ar do sono
Pesando na carne
Reune água D'amanhã
Em poros de Sol
Onde arde a noite
De meus olhos irmã.
Ouve-se o oceano
Nas conchas
Nas mãos
Estrelas que sugam
Leques de sinos
De orquídeas
Em galhos marinhos
Predando nos ninhos
De vespa e dragão.
Farejam, solitários,
Colméias de luz
Entardecida.
Metamorfoseiam,
Ao sabor de meteoros,
Lagos de orelha
Sem dúvida.
Pesando na carne
Reune água D'amanhã
Em poros de Sol
Onde arde a noite
De meus olhos irmã.
Ouve-se o oceano
Nas conchas
Nas mãos
Estrelas que sugam
Leques de sinos
De orquídeas
Em galhos marinhos
Predando nos ninhos
De vespa e dragão.
Farejam, solitários,
Colméias de luz
Entardecida.
Metamorfoseiam,
Ao sabor de meteoros,
Lagos de orelha
Sem dúvida.
Medo Meu
Tenho medo do nada
Tenho medo do não-nada
De que tenho medo afinal?
Medo do medo?
Medo de mim?
O mundo não,
De mim o mundo há de ter medo!
Sou eu, sim!
O medo do mundo
O meu próprio medo,
Fora e dentro de mim
Ao mesmo tempo
Ao mesmo medo.
Tenho medo do não-nada
De que tenho medo afinal?
Medo do medo?
Medo de mim?
O mundo não,
De mim o mundo há de ter medo!
Sou eu, sim!
O medo do mundo
O meu próprio medo,
Fora e dentro de mim
Ao mesmo tempo
Ao mesmo medo.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Rastro
Neste Finalmente o ar tornou-me esclarecida.
Rodeou-me a contentação esparssa.
Hoje fumei o último cigarro da minha vida,
Num último sopro seco, sem nenhuma graça.
Decidi não mais contemplar, da morte, as bodas,
Nem sentir aquele vento do desencanto e desesperança.
Tornar-te quem tú és, de uma vez por todas,
Para nunca esquecer a cor de minha criança.
Lágrimas nas veias... Imensidão de astros...
Por ele a morte golpeia, seguindo incansável os rastros.
Mas sei que reina em meus seios, o sumo da vida plena.
Prefiro, por quê não, uns filhos, cheios d'água e mastros.
Este abismo não mais me envenena.
Quero tremer diante da vida linda.
Morar, ao final, na raiz de uma lua.
Quero morrer e ser ainda.
20/12/08
Rodeou-me a contentação esparssa.
Hoje fumei o último cigarro da minha vida,
Num último sopro seco, sem nenhuma graça.
Decidi não mais contemplar, da morte, as bodas,
Nem sentir aquele vento do desencanto e desesperança.
Tornar-te quem tú és, de uma vez por todas,
Para nunca esquecer a cor de minha criança.
Lágrimas nas veias... Imensidão de astros...
Por ele a morte golpeia, seguindo incansável os rastros.
Mas sei que reina em meus seios, o sumo da vida plena.
Prefiro, por quê não, uns filhos, cheios d'água e mastros.
Este abismo não mais me envenena.
Quero tremer diante da vida linda.
Morar, ao final, na raiz de uma lua.
Quero morrer e ser ainda.
20/12/08
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